O Carnaval já estava fervendo no Rio na noite de domingo, mas tudo parou por um instante. A expectativa era grande para saber se o Brasil levaria seu primeiro Oscar de I’m Still Here, na categoria de melhor filme internacional. A produção de Walter Salles, ambientada na ditadura militar que assolou o país por duas décadas, também concorria em outras categorias, aumentando a tensão e a esperança.
A festa já tinha um toque de Hollywood. Nos elétricos, os carros de som que animavam a folia, a animação era contagiante pela indicação do filme, a mais de 9 mil quilômetros dali. E a criatividade não parava: o Boneco de Olinda, um gigante tradicional do Carnaval, ganhou uma versão de Fernanda Torres, estrela do filme, segurando uma estatueta. Era a maior e mais original festa de gala do Oscar já vista.
Oscar de I’m Still Here e a explosão de alegria no Carnaval
Quando Penélope Cruz anunciou I’m Still Here como o vencedor no palco do Dolby Theatre, a multidão no Carnaval explodiu em festa. Muitos acompanharam a cena em telões, vendo Salles abraçar Fernanda Torres e James Mangold antes de subir ao palco. Outros receberam a notícia online. E em um momento memorável, Daniela Mercury, ícone da música brasileira e vencedora do Grammy Latino, anunciou a vitória do alto de seu elétrico, levando o público ao delírio.
Ainda Estou Aqui já era um fenômeno no Brasil antes mesmo do Oscar, com mais de 5 milhões de ingressos vendidos e discussões acaloradas por todo o país. Ministros do Supremo Tribunal Federal o citaram em casos buscando responsabilizar elementos da extrema-direita, e agências governamentais mudaram regras sobre certidões de óbito por causa dele.
Mas a atenção da Academia era algo a mais. Um trauma por muito tempo varrido para debaixo do tapete sendo celebrado por uma das mais importantes instituições do entretenimento mundial – uma irônica e bela reviravolta.
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E tudo isso através de Salles, um cineasta renomado e cronista da América Latina, e de Torres, filha da lendária Fernanda Montenegro e uma estrela por seus próprios méritos. Havia até uma esperança de que Torres, que surpreendera no Globo de Ouro, pudesse levar o Oscar, desbancando Demi Moore e Mikey Madison.
Mas esse prêmio ainda demoraria uma hora. E nem era preciso.
O impacto político e cultural do Oscar de I’m Still Here
“É difícil expressar em palavras a dimensão desse momento”, escreveu Bruna Santos, diretora do Brazil Institute do The Wilson Center, em Washington D.C., e ex-vice-presidente da Escola Nacional de Administração Pública. “É um momento decisivo, não só para o cinema brasileiro, mas para a forma como o país lida com o próprio passado.”
Rafael Ioris, especialista em América Latina da Universidade de Denver e autor do livro Transforming Brazil, foi ainda mais direto em sua mensagem ao THR.
“Uma noite histórica”, escreveu ele.
O filme narra a história de Eunice Paiva, esposa de um deputado, que busca justiça após o sequestro de seu marido pelas autoridades militares. A forma como ela lutou por anos tem dado esperança a muitos no Brasil, que enfrentam o crescimento de políticas de extrema-direita. O próprio país viu uma tentativa de golpe liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2023.
A chance de o filme brilhar no palco do Oscar impulsionou ainda mais essa luta.
“Este prêmio é para uma mulher que, após uma perda durante um regime autoritário, escolheu resistir”, disse Salles no Dolby Theatre, defendendo que as pessoas sigam seu exemplo onde quer que o autoritarismo se manifeste.
Os desdobramentos de I’m Still Here mostram o poder global da nova Academia, mais internacionalizada. Ao escolher filmes de fora de Hollywood, alguns temem que a organização ignore a indústria americana dominante. Mas ela também faz algo mais: reconhece países fora de sua base e impulsiona suas indústrias cinematográficas. Essa é a esperança no Brasil, onde especialistas afirmam que o país precisa de políticas mais fortes e investimentos do governo para ter uma cultura cinematográfica rica.
As reações no Brasil se assemelham à alegria em Riga após a vitória da animação letã Flow. A capital da Letônia está em festa desde que Flow começou a chamar a atenção do Oscar, com placas da cidade modificadas em homenagem ao filme. O presidente do país, Edgars Rinkēvičs, declarou no X que “Este é um dia grandioso e histórico para a Letônia! E todos nós precisaremos de tempo para entender o que aconteceu, porque algo grande e belo ocorreu!”
No Brasil, a noite ganhou um tom agridoce quando Torres perdeu para Madison, a estrela de Anora, uma atriz de Los Angeles cujo filme é pouco conhecido pelos brasileiros. Afinal, com tantos melhores filmes e séries para assistir, fica difícil escolher.
Apesar da decepção de alguns, especialistas acreditam que isso não afetará o ânimo a longo prazo. Mas uma estrela talvez não deva contar com bilheterias altas no Rio tão cedo. “Conquistar o coração dos brasileiros será uma batalha difícil para Mikey Madison”, brincou Santos.
Primeira: Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.