Algoritmo do Youtube entregava 4X mais vídeos de Bolsonaro

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14/06/2023 às 11:38 | Atualizado há 11 meses
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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Vero, a Fundação Mozilla e a Universidade de Exeter, na Inglaterra, concluíram que o algoritmo do Youtube recomendava mais os canais apoiadores do governo Bolsonaro, quando em comparação com canais apoiadores de outros candidatos, durante as eleições em 2022.

A pesquisa analisou mais de 30 mil vídeos de conteúdo político disponíveis no YouTube entre os dias 10 de outubro e 30 de novembro. Dentre esses vídeos, os pesquisadores identificaram cinco grupos principais de canais que estavam mais interconectados entre si e recebiam mais recomendações.

O canal oficial do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PL) e mídias alinhadas ao bolsonarismo, como a Jovem Pan News, Sikera Junior e Te Atualizei, foram agrupados no grupo B. Os vídeos desse grupo foram os que mais receberam recomendações (37%) em média no YouTube, em comparação com os demais analisados.

“Mesmo que você estivesse assistindo a um vídeo pró-Lula, ainda havia uma boa chance de a plataforma te recomendar um vídeo favorável a Bolsonaro. A cada três recomendações do YouTube [de conteúdo político], uma delas iria para vídeos de canais bolsonaristas”, explica Chico Camargo, coordenador do projeto e professor de Ciência da Computação na Universidade de Exeter.

Já o grupo A, que incluía o canal oficial de Lula (PT) e mídias tradicionais com um certo viés contrário a Bolsonaro, como Greg News, Poder 360 e Carta Capital, recebia cerca de 10% das recomendações entre todos os vídeos analisados.

A pesquisa também destaca que essa diferenciação ocorreu mesmo com um número equilibrado de vídeos favoráveis (2.752) e contrários (2.911) a Bolsonaro. “A maioria das recomendações de todos os grupos apontava diretamente para o Grupo B [de Bolsonaro]”, afirma o estudo.

Canais parceiros se recomendavam

Outra conclusão do estudo é que, além dos canais conectados pelo sistema de recomendações do YouTube, existe uma segunda rede que funciona por meio de indicações diretas nos vídeos. “É quando um canal recomenda, falando no próprio vídeo, o próximo vídeo que o espectador deve assistir”, explica Beatrice Bonami, responsável pela área de Ciência e Inovação do Instituto Vero.

Ela afirma que essa segunda rede funciona com uma coordenação de discurso e narrativa entre vários atores. Embora os pesquisadores tenham observado esse tipo de ação mais do lado favorável a Bolsonaro, eles ressaltam que são necessários estudos mais aprofundados sobre o tema, que inclusive já foram iniciados em uma segunda parte do trabalho.

O estudo também transcreveu todo o conteúdo dos cerca de 30 mil vídeos analisados. Esse material foi agrupado em temas relevantes para o estudo, que incluíram Ameaças à Democracia, Candidatos/Eleições, Políticas Públicas, Religião e Outros.

O grupo B (de canais favoráveis a Bolsonaro) também concentrou a maior parte dos vídeos (25%) com temas relacionados à ameaça à democracia, como fraudes nas urnas e acusações de corrupção. “Observamos que esses vídeos que questionavam a legitimidade do processo eleitoral seguiam uma fórmula para comunicar esse conteúdo de forma a incitar o espectador”, explica Bonami, do Vero.

A pesquisa contou com a participação de 65 voluntários anônimos. Foi utilizada uma extensão desenvolvida pela Universidade de Exeter com a Mozilla, na qual os participantes marcavam os vídeos políticos que assistiam no YouTube.

Durante esse processo, mais de 1.200 vídeos foram identificados como políticos. A ferramenta também detectava quais vídeos eram recomendados com base nas marcações feitas pelos voluntários, totalizando 30 mil vídeos analisados.

Em uma terceira etapa, os pesquisadores selecionaram vídeos no YouTube a partir de buscas com palavras-chave relacionadas ao tema eleitoral, como Congresso e urnas.

“Nosso objetivo era mapear as conexões entre os vídeos”, explica Chico Camargo.

Para ele, o estudo deixa claro a importância do YouTube nas eleições. “A plataforma é o novo horário eleitoral. Até mesmo canais que inicialmente consideramos como entretenimento, como podcasts, se tornaram espaços de campanha e palanques”, observa ele.

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Fundador e editor chefe da Tekimobile Midia. Além de empreender, trabalhou 20 anos com eletrônica e telecom até que decidiu se dedicar 100% na produção de conteúdo.
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