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- Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo de ação furtiva com narrativa envolvente e personagens humanos e bem escritos.
- Ele oferece mecânicas simples e uma história que mistura crítica social, política e elementos de quebra-cabeça.
- As fases são lineares e o controle de múltiplos personagens aumenta a estratégia; inimigos distraídos facilitam a jogabilidade.
- O ritmo é bem equilibrado, com duração curta, oferecendo uma experiência imersiva e não repetitiva para fãs de stealth.
Eriksholm: The Stolen Dream é o primeiro jogo da River End Games, um estúdio sueco formado por veteranos que trabalharam em títulos como Battlefield e Mirror’s Edge. Lançado em 15 de julho para PC (Steam e Epic Games Store), PS5 e Xbox Series S|X, ele aposta em uma propriedade intelectual original. Há também uma versão de demonstração gratuita disponível para quem quiser testar essa aventura de ação furtiva isométrica.
Narrativa envolvente e personagens cativantes em Eriksholm
Uma das principais características de Eriksholm: The Stolen Dream é sua narrativa focada, que se desenrola sem interromper o ritmo da jogatina. Quase tudo acontece em tempo real, e o jogador rapidamente assume o controle de Hanna, a protagonista. A história se passa em Eriksholm, uma cidade inspirada na Escandinávia do início do século XX.
A cidade enfrenta dois grandes desafios. Primeiro, a chegada do maquinário a vapor está fazendo com que muitas pessoas percam seus empregos tradicionais. Com isso, elas são forçadas a aceitar trabalhos com condições ainda mais precárias. Além disso, uma doença mortal, conhecida como Praga do Coração, ameaça a vida da população local.
No início da campanha, Hanna se recupera de uma doença sob os cuidados de seu irmão, Herman. Para a surpresa de todos, ela melhora. Aliviado, Herman se prepara para trabalhar, deixando Hanna para descansar em casa. No dia seguinte, um policial interrompe o sono da protagonista, buscando levá-la para interrogatório.
É nesse momento que Hanna descobre que Herman não está apenas desaparecido, mas toda a força policial da cidade foi mobilizada. Essa mobilização excessiva culmina em abuso de autoridade, com os policiais oprimindo moradores e cercando a dupla. A trama se aprofunda, gerando diversas perguntas que impulsionam a curiosidade do jogador.
A campanha instiga o jogador a descobrir o porquê de tantos militares estarem atrás de dois jovens. Questiona-se também a urgência do prefeito, em plena campanha eleitoral, em lidar com a situação, enquanto a população sofre com pobreza, saúde precária e falta de empregos dignos. Será que Herman fez algo errado? E onde ele está?
Essas questões são a base para a construção do mundo do jogo. Ela é bem apoiada por personagens interessantes, que possuem diálogos bem escritos e que transmitem humanidade em suas interações. Encontrar colecionáveis espalhados pelos cenários também adiciona camadas à história, completando o ambiente.
Embora alguns desdobramentos da história sejam um pouco previsíveis, a jornada é divertida de acompanhar e cumpre bem o seu papel. Hanna, em particular, se destaca como uma protagonista corajosa e capaz. Sua personalidade a leva a se envolver em diversas situações e a ter atritos com outros personagens ao longo da aventura.
A performance dos atores de voz é um dos pontos positivos do jogo. As cenas mais cinematográficas, mesmo sendo poucas, chamam a atenção pela qualidade visual. Elas enriquecem a experiência, proporcionando momentos que destacam a atenção aos detalhes por parte dos desenvolvedores.

Trabalho em Equipe e Mecânicas de Furtividade
Como já mencionamos, Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo de ação furtiva com visão isométrica. Ele usa um sistema de apontar e clicar para controlar os personagens e interagir com o ambiente. As primeiras horas podem parecer um pouco lentas, pois o jogo demora para apresentar todas as suas mecânicas.
No entanto, a experiência melhora quando Hanna consegue acesso a uma zarabatana. A introdução de outros personagens jogáveis também adiciona mais profundidade e estratégia ao gameplay. A sensação de progresso e a variedade de ações aumentam consideravelmente a partir desse ponto.
Existem momentos em que os jogadores precisam controlar até três personagens ao mesmo tempo. Isso exige que se alterne entre eles, realizando ações coordenadas para distrair inimigos e abrir novos caminhos. Cada personagem tem habilidades únicas, como arremessar pedras para chamar a atenção ou escalar canos.
Outros personagens podem nadar, oferecendo diferentes formas de superar desafios. É gratificante conseguir combinar essas mecânicas para avançar pelas fases. A base do gameplay é simples e intuitiva, entregando o que se espera de um jogo de furtividade. Trocar entre unidades é fácil e o controle geral é fluído.
Se o jogador se sentir perdido, a solução quase sempre está em girar a câmera para ver novas perspectivas do cenário. Isso revela oportunidades e caminhos antes não notados. No entanto, a inteligência artificial dos inimigos pode ser um ponto fraco, pois eles são facilmente distraídos e rapidamente esquecem a presença do jogador.
Essa característica dos inimigos, embora possa parecer um descuido, talvez sirva a um propósito na narrativa: reforçar a ideia de que a força opressora é incompetente. Essa interpretação adiciona uma camada interessante à forma como o jogador percebe os desafios e seus oponentes no jogo. Desenvolvedores de jogos sempre buscam maneiras de integrar a narrativa com o gameplay.
As fases do jogo, que geralmente duram cerca de uma hora, oferecem desafios variados. Um dos exemplos mais interessantes é uma parte em uma mina de carvão abandonada, onde é preciso interpretar símbolos para descobrir o caminho correto. Essa dinâmica lembrou a outros jogos focados em quebra-cabeças.
Também há diversas situações que brincam com sombras dinâmicas. O jogador precisa usar a cobertura para se camuflar e avançar pelo cenário sem ser visto. Essa mecânica é fundamental para a furtividade e oferece um aspecto tático ao movimento pelos ambientes.

É importante notar que Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo bastante linear. Embora a exploração seja parte da experiência, as fases não oferecem múltiplas soluções para um mesmo problema. Em muitos jogos furtivos, a liberdade de escolha é um elemento chave, mas aqui, o caminho é mais direcionado.
O jogo foi cuidadosamente planejado para que o jogador siga o caminho que os desenvolvedores idealizaram. Isso faz com que ele se pareça mais com um jogo de quebra-cabeça furtivo do que um jogo de estratégia com múltiplas abordagens. A parte estratégica, nesse sentido, acaba sendo um pouco limitada.
Essa linearidade, aliada a soluções muito fechadas, pode gerar alguns riscos de travar a jogatina. O jogo é generoso com seus salvamentos automáticos, mas pode acontecer de ele salvar em momentos inoportunos. Durante a experiência, houve um momento em que precisei resolver uma situação de forma muito precisa.
A situação exigia colocar um inimigo para dormir enquanto um segundo personagem entrava por uma porta dos fundos para esconder o corpo. Contudo, um guarda se aproximava, prestes a flagrar a cena. O jogo salvou exatamente nesse ponto, sem dar tempo hábil para resolver a situação.
O loading sempre retornava com o guarda prestes a descobrir o corpo, e o segundo personagem ainda estava do lado de fora. Foi preciso muitas tentativas para conseguir entrar e esconder o corpo antes de ser descoberto. A execução precisou ser perfeita, em um intervalo curtíssimo, quase como uma janela de um frame. Foi um momento de frustração considerável.

Ritmo e Duração Adequados
Jogos de furtividade podem se tornar repetitivos, exigindo paciência para avançar pelos cenários. Quando as tentativas dão errado, eles podem ser punitivos, levando à frustração. Felizmente, em Eriksholm: The Stolen Dream, as fases são bem estruturadas para evitar que o processo se torne maçante.
No momento em que as fases poderiam começar a ficar repetitivas, o jogo já está se aproximando do final ou introduz uma nova mecânica. Além disso, o sistema se preocupa em não tornar o processo de tentativa e erro muito frustrante. O jogador rapidamente retoma o controle após um erro, incentivando novas tentativas.
A campanha é dividida em oito capítulos, e cada um dura cerca de uma hora. Os últimos capítulos podem ser um pouco mais longos, mas a equipe de desenvolvimento garantiu que a duração fosse ideal para manter a diversão. Isso evita que o jogo se estenda desnecessariamente.
Outra decisão interessante é que, mesmo durante os tutoriais, o jogo não interrompe a ação do usuário. Você tem controle total do início ao fim, sem janelas ou interrupções invasivas. Essa abordagem de game design é valorizada e contribui para uma experiência fluida e imersiva.

Considerações Finais
Eriksholm: The Stolen Dream se apresenta como um jogo competente em sua simplicidade. Embora não traga grandes inovações em seu gameplay ou narrativa, ele consegue entreter. Suas mecânicas são divertidas e podem agradar aos fãs que buscam por jogos de furtividade.
O texto dos personagens se destaca, com diálogos bem escritos que refletem suas personalidades. A construção de mundo também é um ponto forte, abordando críticas políticas e sociais de forma natural. Isso adiciona profundidade ao universo do jogo.
A ausência de múltiplas soluções para um mesmo desafio pode decepcionar jogadores mais exigentes. No entanto, essa característica o torna um bom ponto de partida para quem não está acostumado com jogos de furtividade. Ele oferece uma experiência mais guiada e acessível.
É um título adequado para quem busca algo diferente e autoral, sem a pretensão de se tornar uma franquia gigante. O jogo pode ser aproveitado no seu ritmo, em sessões mais curtas. Além disso, a experiência de veteranos em seu desenvolvimento é um diferencial.

Pontos de Destaque
- Personagens desenvolvidos e interessantes.
- Narrativa que desperta a curiosidade.
- Visuais bem trabalhados e bonitos.
- Mecânicas simples e divertidas.
- Localização em português do Brasil de boa qualidade.
Aspectos a Considerar
- Fases com design muito linear.
- A inteligência artificial dos inimigos poderia ser aprimorada.
- Salvamentos automáticos podem, ocasionalmente, criar situações complicadas.
A análise de Eriksholm: The Stolen Dream foi feita na versão para PC. A chave de acesso foi cedida pela assessoria de imprensa. O jogo foi lançado oficialmente em 15 de julho, com versões disponíveis para Steam, Epic Games Store, PS5 e Xbox Series S|X.