Aplicativos de amigos virtuais ganham espaço no Brasil e chamam atenção de gigantes da tecnologia

Plataformas de amigos virtuais crescem no Brasil, com personagens personalizados, e despertam interesse de empresas como Meta e Google.
Atualizado há 18 horas atrás
Aplicativos de amigos virtuais ganham espaço no Brasil e chamam atenção de gigantes da tecnologia
Crescem as plataformas de amigos virtuais no Brasil, atraindo gigantes como Meta e Google. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • Aplicativos de amigos virtuais, como Character.AI e Polybuzz, estão se popularizando no Brasil, oferecendo interações personalizadas.
    • Você pode conhecer personagens virtuais que simulam relacionamentos, desde amizades até flertes, por assinatura mensal.
    • Essa tendência pode influenciar como as pessoas lidam com a solidão e a interação social, substituindo contatos humanos por IA.
    • Gigantes como Meta e Google estão investindo nesse mercado, indicando um futuro com mais integração de IA no cotidiano.
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É inegável: a inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente em nossas vidas. E não estamos falando apenas de carros autônomos ou robôs futuristas. Uma nova onda de aplicativos e sites de amigos artificiais no Brasil tem ganhado popularidade, com personagens de IA que simulam relacionamentos e oferecem companhia. Mas será que essa é a solução para a solidão ou apenas um reflexo de um problema maior?

A Ascensão dos Amigos Artificiais no Brasil

Não é surpresa que os CEOs da Meta e do Google estejam de olho nessa tendência. Afinal, os amigos artificiais no Brasil já são um dos serviços mais procurados na internet. O Character.AI, por exemplo, já figura entre os cem sites mais acessados no país.

Outra plataforma que tem chamado a atenção é a Polybuzz, que cobra R$ 50 por mês para acesso a personagens com quem você pode até flertar. A empresa já está entre os 30 aplicativos de entretenimento mais lucrativos nos Estados Unidos e no Brasil, segundo dados da Sensor Tower. Entre os personagens mais populares da Polybuzz, destaca-se o MC Paiva, um funkeiro milionário e pai de dois filhos, conhecido por seu comportamento protetor.

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Vídeos no TikTok mostram jovens criando amizades e até relacionamentos amorosos com esses personagens, que podem ter aparência e personalidade personalizadas. A influenciadora Debora Oliveira, que aborda o tema com humor, faz um alerta importante: “Já trouxe algumas vezes ao público a importância de não desenvolver sentimentos pelos bots de IA.”

Existem outros aplicativos como Chai e Emochi que também estão crescendo em popularidade, permitindo conversas mais “liberais”. A Meta já testou a criação de personagens de IA baseados em celebridades, e o Google contratou os fundadores da Character.AI. Recentemente, a Google integra o assistente Gemini à Play Store para tirar dúvidas sobre aplicativos, facilitando o uso e a escolha de ferramentas.

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Solidão e Tecnologia: Causa ou Consequência?

Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, já comentou sobre a busca por companhia artificial. Ele observou que, em média, um americano considera ter 3 amigos, mas gostaria de ter 15. Para Zuckerberg, ainda existe um certo “estigma” em relação à interação emocional com chatbots. “Ao longo do tempo, nós vamos achar um vocabulário para articular porque as pessoas com esse comportamento são racionais”, afirmou.

Críticos apontam que Zuckerberg estaria propondo uma solução para um problema que ele mesmo ajudou a criar: o crescente sentimento de solidão. A psicanalista Vera Iaconelli, colunista da Folha, afirma que as redes sociais, que originalmente visavam fortalecer os laços entre as pessoas, estão se tornando uma forma de substituir esses laços.

Iaconelli destaca que os sintomas dessa troca de contato humano por interações virtuais são evidentes: “Nunca se sofreu tanto psiquicamente, nunca as pessoas se sentiram tão sós, tão isoladas, tão adoecidas, tão medicalizadas como hoje”.

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Uma pesquisa da Meta, realizada pelo instituto Gallup, revelou que o nível de isolamento autodeclarado no Brasil é o mesmo dos Estados Unidos: 15%. No entanto, os jovens brasileiros relatam um menor sentimento de apoio social, com 34% dizendo não se sentirem queridos pelas pessoas, em comparação com 25% nos Estados Unidos.

O Papel da IA na Disponibilidade e Ajuda Mútua

Sundar Pichai, CEO do Google, defende que a tecnologia pode ajudar os amigos a estarem mais disponíveis. Segundo ele, a IA vai permitir que as pessoas sejam mais prestativas entre si. Uma nova ferramenta do Google permitirá acessar arquivos e e-mails do usuário para escrever respostas em seu lugar, facilitando o envio de informações sobre viagens ou o cumprimento de pedidos de ajuda.

Pichai chegou a afirmar: “Eu poderia ser um amigo melhor”, ao apresentar o recurso, que custará R$ 980 por ano. O Google garante que a ferramenta só funcionará com o consentimento do usuário e que os dados não serão usados para outros fins.

No entanto, Iaconelli questiona se os amigos autorizariam que suas informações e comunicações fossem mediadas por uma máquina. Zuckerberg também mencionou que as pessoas estão usando a inteligência artificial como terapeutas ou para ensaiar discussões difíceis, buscando apoio para tomar decisões. Para ele, a tecnologia precisa de mais dados para entender os desejos mais subjetivos dos usuários.

A Crítica à Economia do Tempo e a Perda da Intimidade

Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, lembra que, desde a revolução industrial, existe a promessa de que a tecnologia economizará tempo. No entanto, o tempo livre das pessoas não aumentou significativamente. Ao usar essas novas ferramentas, as pessoas evitariam atividades humanas essenciais, como pensar no que dizer aos amigos ou planejar momentos de lazer com a família. Com isso, sobraria mais tempo para navegar nas plataformas, ver anúncios personalizados e comprar.

Bucci resume: “Isso que aparentemente, na fantasia, na superfície, é uma grande invenção, no fundo, é o avanço de uma forma organizada de roubar a vida das pessoas, a sua intimidade, a sua imaginação, os seus afetos, a sua elaboração intelectual”.

Iaconelli alerta que a interação excessiva com os modelos de linguagem pode prejudicar a sociabilidade dos usuários, já que os chatbots são programados para atender a todos os pedidos. Para ela, a possibilidade de estar com o outro, mesmo com suas contradições e exigências, é fundamental para o desenvolvimento humano. Existe o risco de as pessoas perderem as habilidades necessárias para manter relacionamentos presenciais e duradouros.

A psicanalista conclui que a inteligência artificial é incapaz de substituir o afeto humano: “É que nem comer comida industrializada, é gostoso para caramba, você sente até que está se alimentando, só que não está”.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de S.Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.