Arqueóloga Niède Guidon, pioneira da pré-história brasileira, morre aos 92 anos

Niède Guidon, responsável por descobertas revolucionárias na pré-história do Brasil, falece aos 92 anos, deixando um legado científico inestimável.
Atualizado há 1 dia atrás
Arqueóloga Niède Guidon, pioneira da pré-história brasileira, morre aos 92 anos
Niède Guidon, pioneira da pré-história brasileira, nos deixa um legado eterno. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • A arqueóloga Niède Guidon, responsável por descobertas revolucionárias na pré-história do Brasil, morreu aos 92 anos.
    • Seu trabalho transformou o entendimento sobre a ocupação humana nas Américas e preservou o patrimônio arqueológico brasileiro.
    • O legado de Guidon influencia gerações de pesquisadores e fortalece a importância da ciência no país.
    • O Parque Nacional Serra da Capivara, criado por ela, é um marco do seu compromisso com a preservação.
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A arqueóloga Niède Guidon morre aos 92 anos, deixando um legado inestimável para a arqueologia brasileira e mundial. Suas pesquisas revolucionárias no Piauí desafiaram as teorias estabelecidas sobre a ocupação humana nas Américas, abrindo novas perspectivas sobre a pré-história do Brasil. Guidon não apenas transformou o conhecimento científico, mas também dedicou sua vida à preservação do patrimônio arqueológico e ao desenvolvimento social da região onde trabalhou.

A trajetória de Niède Guidon

Niède Guidon, formada em história natural pela USP e doutora pela Universidade de Paris, sempre foi uma figura central na arqueologia brasileira. Sua paixão pela pesquisa a levou a desafiar a teoria de Clóvis, que afirmava que os primeiros habitantes da América chegaram há cerca de 13 mil anos pelo Estreito de Bering.

As descobertas de Guidon no Piauí, no entanto, revelaram vestígios de presença humana datados de até 60 mil anos atrás, e ela acreditava que esses indícios poderiam chegar a 105 mil anos na Serra da Capivara. Essa contestação gerou debates acalorados na comunidade científica, mas a persistência e a qualidade do trabalho de Niède eventualmente conquistaram o reconhecimento de muitos.

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Walter Neves, renomado arqueólogo brasileiro, foi um dos que inicialmente questionaram as datações de Guidon. No entanto, em 2010, ele admitiu estar “99,9% convencido” da consistência de suas descobertas, elogiando a coragem e a determinação da pesquisadora.

Desafios e superações na carreira de Niède Guidon

A trajetória de Niède Guidon não foi isenta de obstáculos. Além do ceticismo científico, ela enfrentou dificuldades logísticas para acessar os sítios arqueológicos remotos na caatinga piauiense. Sua determinação, no entanto, a impulsionou a superar cada barreira.

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De acordo com a pesquisadora, os arqueólogos europeus demonstraram mais abertura para suas datações, reconhecendo a seriedade e o rigor de seu trabalho no Piauí, tanto que apoiaram financeiramente os estudos. A resistência veio principalmente da comunidade científica norte-americana e de alguns setores no Brasil.

Em 1963, quando trabalhava no Museu Paulista da USP, Niède ouviu falar de um sítio com pinturas rupestres no interior do Piauí. Tentou chegar ao local com um Fusca, mas as dificuldades de acesso a fizeram desistir. Em 1964, mudou-se para a França, retornando ao Brasil em 1970 para pesquisar populações indígenas de Goiás, quando finalmente conseguiu visitar o sítio e confirmar sua importância.

Diante da relevância do achado, Niède buscou apoio do governo francês e organizou uma missão de pesquisa em 1973. A partir daí, dividiu seu tempo entre Paris, onde lecionava, e São Raimundo Nonato, no Piauí, liderando equipes interdisciplinares para estudar a região.

O legado de Niède Guidon: Parque Nacional Serra da Capivara

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O maior legado de Niède Guidon é, sem dúvida, o Parque Nacional Serra da Capivara, reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1991. A arqueóloga dedicou anos de sua vida à criação e manutenção do parque, lutando contra o isolamento, a falta de recursos e as ameaças ao patrimônio arqueológico.

Guidon também fundou a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), responsável pelo estudo e preservação do acervo natural e cultural do parque. Catalogou 1.354 sítios arqueológicos na área, dos quais 200 estão abertos à visitação.

A criação do parque, no entanto, também gerou controvérsias. A desapropriação de terras para a sua criação impactou comunidades locais, que tiveram seu modo de vida alterado. Niède enfrentou críticas e chegou a usar recursos próprios para garantir o funcionamento do parque.

Apesar dos desafios, Niède Guidon nunca se deixou abater. Nascida em Jaú, São Paulo, em 12 de março de 1933, ela optou por dedicar sua vida aos estudos na Serra da Capivara, permanecendo solteira e sem filhos. Sua determinação e paixão pela arqueologia a transformaram em uma figura ímpar na ciência brasileira.

Ela sempre afirmou que nunca se sentiu diferente de qualquer homem e que as dificuldades de ser mulher em um ambiente tão desafiador estavam mais na cabeça das pessoas do que na dela. Sua história inspira e continua a influenciar gerações de arqueólogos e pesquisadores.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de S.Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.