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- O uso de inteligência artificial consome grandes quantidades de água, equivalente ao abastecimento de cidades inteiras.
- O governo brasileiro planeja atrair data centers com isenção de impostos, visando desenvolvimento tecnológico.
- O aumento da demanda por água e energia pode agravar crises hídricas e impactar o meio ambiente.
- Especialistas alertam para a necessidade de políticas sustentáveis e estudos de impacto ambiental.
Fazer entre 20 e 30 perguntas para uma plataforma de inteligência artificial pode consumir o equivalente a meio litro de água potável. Os dados processados pelas IAs passam por data centers, que consomem muita energia e água para se resfriarem. O governo brasileiro quer atrair esses centros com redução de impostos, gerando debates sobre o impacto ambiental.
Os data centers são cruciais para o funcionamento das IAs, mas demandam muitos recursos naturais. Entenda como a sede da inteligência artificial impacta o meio ambiente e quais são os planos do Brasil para esse setor.
Para entender melhor o impacto do consumo de água por IA, vamos analisar como esses sistemas utilizam água, os planos do Brasil para atrair data centers, os riscos ambientais envolvidos e o que as empresas estão fazendo para mitigar esses efeitos.
Como a IA Consome Água
Além da interface que vemos nas telas, cada comando enviado a uma IA é processado em data centers. A inteligência artificial exige um alto poder de computação e, consequentemente, consome muita energia. Esse consumo gera calor nos equipamentos, que precisam ser resfriados para evitar o superaquecimento. A tecnologia mais usada nesse processo utiliza água doce, que circula nos sistemas e evapora.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia analisaram a “pegada hídrica” do modelo GPT-3. Como a empresa responsável não divulga o volume de água consumido, os cientistas estimaram os dados com base no uso de energia e nos sistemas de resfriamento.
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Segundo o estudo, entre 20 e 50 perguntas feitas a um chatbot como o ChatGPT podem evaporar o equivalente a meio litro de água potável. Atualmente, o ChatGPT tem 400 milhões de usuários semanais. Se cada um fizesse entre 20 e 50 perguntas, o consumo estimado seria de 200 mil litros de água por semana.
Para entender a dimensão de toda essa água, analisamos o consumo diário de água nas cidades brasileiras por pessoa, com base nos dados do Instituto Trata Brasil. O volume usado em alguns comandos para a inteligência artificial seria o bastante para manter a população de cidades inteiras por um dia.
O especialista em inteligência artificial Diogo Cortiz explica que essas ferramentas exigem grande esforço computacional, elevando a demanda por energia e, consequentemente, por água para resfriamento. Ele reforça que, além do uso durante as interações, milhares de litros também são consumidos no processo de treinamento desses sistemas.
Não é só a inteligência artificial que precisa de um data center para funcionar. Até mesmo as redes sociais processam seus dados nesses sistemas. No entanto, desde o avanço da IA, a demanda por água e energia vem atingindo recordes.
Segundo o Google, que tem o Gemini como ferramenta de IA, foram necessários 6,4 bilhões de galões de água para manter sua estrutura em 2023 — o equivalente a 24 bilhões de litros. É o maior volume desde 2019, antes do lançamento da ferramenta. O mesmo aconteceu com a Microsoft, que declarou ter usado 12,951 bilhões de litros de água — o maior número já registrado nos últimos anos.
O Plano do Brasil Com Data Centers
O uso de recursos naturais com o crescimento da inteligência artificial vem se tornando uma preocupação para as big techs, que têm enfrentado pressão crescente. Em alguns países, o consumo de água ainda se soma ao problema da emissão de carbono, já que estão localizados em regiões cuja matriz energética depende de combustíveis fósseis — e é aqui que o plano do governo brasileiro pretende entrar.
Neste mês, o ministro Fernando Haddad esteve em um evento na Califórnia para apresentar os planos do governo federal de abrir espaço para a instalação de data centers. A estratégia foi posicionar o Brasil como um destino competitivo e sustentável para novos investimentos em infraestrutura digital. O governo quer enviar ao Congresso um texto que prevê a isenção de impostos sobre equipamentos importados e a exportação de serviços do setor.
O governo tem se apresentado às empresas como uma solução sustentável, já que a matriz energética do país é hidrelétrica e, portanto, sem emissão de carbono. No entanto, especialistas alertam para os impactos ambientais com o aumento exponencial da demanda por água e energia em um país que enfrentou, em 2024, a pior seca da história. O plano apresentado por Haddad teria sido discutido apenas entre as pastas econômicas do governo, sem consulta ao Ministério do Meio Ambiente.
É importante lembrar que o Brasil avança na Inteligência Artificial, mas desafios persistem para competitividade global e o país precisa equilibrar o desenvolvimento tecnológico com a sustentabilidade ambiental.
Riscos Ambientais do Consumo de água por IA
Apesar das apresentações às big techs, o plano que está sendo vendido ainda não foi publicado. Com isso, não é possível saber se há — e quais seriam — as exigências feitas às empresas. Além disso, segundo fontes, ele foi elaborado sem diálogo com o Ministério do Meio Ambiente.
A preocupação é que se abram as portas para as big techs no país sem estudos de impacto e sem salvaguardas ambientais. Os principais pontos levantados são: o consumo elevado de água, a alternativa com maior demanda por energia e os efeitos nas regiões com risco hídrico. A instalação de um centro como esse pode elevar rapidamente a demanda por recursos, sem que haja tempo hábil para pensar em adaptações.
Por exemplo, em Iowa, nos Estados Unidos, em julho de 2022, durante o treinamento de uma das versões do GPT, a Microsoft bombeou cerca de 41 milhões de litros de água para seu conjunto de data centers, o que significou 6% de toda a água do distrito em um mês.
Em 2024, o Brasil enfrentou a pior seca da história. A falta de chuva derrubou os níveis nas bacias hidrográficas, e o governo chegou a anunciar medidas de contingência, como o aumento do uso de usinas termelétricas — que são movidas a combustíveis fósseis e mais poluentes.
Ao longo dos anos, as estiagens têm se tornado mais intensas e menos espaçadas — reflexo das mudanças climáticas. Com isso, especialistas levantam um ponto de atenção sobre a segurança hídrica. Além disso, o país tem áreas específicas de vulnerabilidade, como o Nordeste. Especialistas apontam que seria necessário incluir estudos de impacto de longo prazo antes de permitir novas instalações.
Em seu relatório de 2023, a Microsoft afirmou que 42% da água utilizada veio de “áreas com estresse hídrico” — regiões sem abundância de água e que enfrentam ciclos recorrentes de seca. No caso do Google, 15% da água consumida teve origem em bacias com alta escassez hídrica.
A posição do governo de não tornar público o plano antes de apresentá-lo às empresas impede a participação de especialistas e da sociedade civil em uma discussão que pode ter impacto direto. No Brasil, no fim de 2024, uma empresa anunciou R$ 3 bilhões em investimentos para a instalação de um data center voltado ao processamento de dados de inteligência artificial no Rio Grande do Sul, estado que vem sendo afetado pela seca e é o mais impactado da Região Sul.
Alternativas para Reduzir o Consumo
As empresas sabem que para evoluir, precisam de mais energia e água. Em abril, um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) previu que o consumo global de eletricidade dos data centers mais do que dobre até 2030, impulsionado pela inteligência artificial, passando de 415 TWh (terawatts-hora) para 945 TWh por ano — mais do que todo o consumo de energia do Japão.
Com a escassez dos recursos no mundo, as empresas têm buscado alternativas para ampliar suas operações e gerar menos impacto, como o desenvolvimento de tecnologias que tornem as máquinas menos dependentes de água, sistemas de resfriamento por ar e investimento em energia solar.
O especialista em inteligência artificial Diogo Cortiz explica que há possibilidades de que a própria IA ajude a compreender e chegar a resultados de uma operação com menos impacto, mas que isso é uma resposta que pode surgir no futuro.
O engenheiro da computação e professor no Instituto Mauá, Rudolf Buhler, reforça que as perspectivas do país em atrair esse tipo de tecnologia são boas, desde que haja exigência e fiscalização para as metas ambientais, atrelando os benefícios fiscais a metas ambientais claras, como eficiência energética, reaproveitamento de água e uso de energia limpa.
Atualmente, as empresas têm investido esforços em ações de “devolução”, que distribui água em áreas pelo mundo com vulnerabilidade hídrica para compensar o uso, mas isso não garante a solução do problema nos locais impactados por elas.
Cortiz ressalta que a demanda por água e energia é um ponto central para a sustentabilidade dos negócios — e que isso, sim, impulsiona parte das soluções. No entanto, enquanto houver disponibilidade de recursos, eles continuarão sendo usados, sendo necessário cobrar políticas públicas e regulação para que haja limites.
O Google informou que se esforça para construir a infraestrutura de computação mais eficiente em termos de energia, apoiada por práticas responsáveis de uso de água e um compromisso de minimizar o desperdício, e que com projetos de gestão de água reabasteceu 18% do consumo de água doce em 2023.
Primeira: Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificiado, mas escrito e revisado por um humano.
Segunda: Via g1