Consumo de água por IAs preocupa especialistas enquanto governo busca atrair data centers

Estudo revela que perguntas a IAs gastam água potável. Governo quer atrair data centers com benefícios, mas impacto ambiental gera debate.
Atualizado há 9 horas atrás
Consumo de água por IAs preocupa especialistas enquanto governo busca atrair data centers
Estudo aponta que uso de IAs consome água; debate sobre data centers e meio ambiente cresce. (Imagem/Reprodução: G1)
Resumo da notícia
    • Pesquisa mostra que fazer perguntas a IAs consome água potável, equivalente a abastecer cidades.
    • Governo brasileiro propõe isenção de impostos para atrair data centers, visando desenvolvimento econômico.
    • Especialistas alertam para riscos ambientais, como aumento do consumo de água e energia em regiões já afetadas por secas.
    • Plano pode agravar crise hídrica no Brasil, que enfrentou a pior seca da história em 2024.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Já parou para pensar quanta água a inteligência artificial (IA) consome? Uma pesquisa recente revelou que fazer de 20 a 30 perguntas para uma plataforma de IA pode gastar o equivalente a meio litro de água potável. Essa água é usada nos data centers, que precisam de muita energia e refrigeração para funcionar. O governo brasileiro está tentando atrair esses centros para o país, oferecendo redução de impostos, mas especialistas questionam o impacto ambiental desse plano.

O que são data centers e por que eles consomem tanta água?

Os data centers são instalações enormes que abrigam os servidores responsáveis por processar, gerenciar e armazenar grandes quantidades de dados digitais. É de lá que vêm as respostas que o ChatGPT te dá, por exemplo. Esses centros precisam de muita energia e sistemas de resfriamento potentes, que geralmente utilizam água potável. Para saber mais sobre segurança e conexão, veja como testar a velocidade da sua internet e garantir uma conexão estável.

Um estudo realizado na Califórnia estimou o consumo de água da IA, analisando quanta água é usada para gerar energia e resfriar os servidores. Os cientistas descobriram que, a cada 20 a 50 perguntas feitas ao ChatGPT, meio litro de água potável evapora.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Pode parecer pouco, mas o ChatGPT tem 400 milhões de usuários semanais. Se cada um fizesse apenas essa quantidade de perguntas, o total de água utilizada seria suficiente para abastecer cidades inteiras por um dia. A situação é ainda mais preocupante quando se considera que o Brasil enfrentou a pior seca da história em 2024.

O plano do Brasil para atrair data centers

O governo brasileiro está de olho nos data centers e quer atrair essas empresas para o país, oferecendo menos impostos. A ideia é que, no Brasil, elas poderiam operar com menor impacto ambiental, já que a matriz energética brasileira é baseada em hidrelétricas, que não emitem carbono.

Leia também:

No entanto, especialistas alertam para os riscos ambientais. O aumento no consumo de água da IA e energia pode ser um problema, especialmente em um país que já sofre com a seca. O plano do governo, que ainda não foi divulgado, parece ter sido discutido apenas entre as áreas econômicas, sem consultar o Ministério do Meio Ambiente.

Para além da tela do seu celular, cada pergunta que você faz para uma IA é processada em um data center. A inteligência artificial exige muito poder de computação e, consequentemente, muita energia. Esse alto consumo de energia gera calor nos equipamentos, que precisam ser resfriados com água doce, que acaba evaporando.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia analisaram a “pegada hídrica” do modelo GPT-3 e estimaram que, entre 20 e 50 perguntas, meio litro de água potável evapora. Com 400 milhões de usuários semanais no ChatGPT, o consumo semanal estimado é de 200 mil litros de água.

O impacto do consumo de água da IA nas cidades brasileiras

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Para ter uma ideia do volume de água que a IA consome, podemos comparar com o consumo diário de algumas cidades brasileiras:

  • Guarulhos (SP): 170 milhões de litros de água por dia
  • Dourados (MS): 33 milhões de litros de água por dia
  • João Pessoa (PB): 116 milhões de litros de água por dia
  • Juiz de Fora (MG): 93,03 milhões de litros de água por dia
  • Niterói (RJ): 104,29 milhões de litros de água por dia
  • Sorocaba (SP): 126,99 milhões de litros de água por dia
  • Boa Vista (RR): 63,78 milhões de litros de água por dia

O especialista em inteligência artificial Diogo Cortiz explica que as IAs exigem um grande esforço computacional, aumentando a demanda por energia e água. Ele também lembra que o treinamento desses sistemas consome milhares de litros de água.

E não é só a IA que precisa de data centers. Redes sociais e outras tecnologias também dependem dessas estruturas. No entanto, o avanço da IA tem feito o consumo de água e energia atingir níveis recordes.

O Google, por exemplo, usou 24 bilhões de litros de água em 2023 para manter sua estrutura, o maior volume desde 2019, antes do lançamento do Gemini. A Microsoft também registrou um aumento significativo, utilizando 12,951 bilhões de litros de água.

Brasil busca se apresentar como solução sustentável

O aumento do consumo de água da IA tem preocupado as grandes empresas de tecnologia, que estão sofrendo cada vez mais pressão. Muitos data centers estão localizados em países que dependem de combustíveis fósseis para gerar energia, o que agrava o problema das emissões de carbono. É aí que o Brasil entra em cena, tentando se posicionar como uma alternativa mais sustentável.

O ministro Fernando Haddad esteve nos Estados Unidos para apresentar os planos do governo brasileiro de atrair a instalação de data centers. A estratégia é mostrar que o Brasil é um destino competitivo e sustentável para investimentos em infraestrutura digital.

O Plano Nacional de Data Centers (Redata) quer atrair R$ 2 trilhões em investimentos para o país nos próximos dez anos. Para isso, o governo pretende:

  • Enviar ao Congresso um projeto de lei para instituir a Política Nacional de Data Centers, com isenção de impostos sobre equipamentos importados e exportação de serviços do setor.
  • Apresentar o Brasil como uma solução sustentável, já que a matriz energética do país é hidrelétrica e não emite carbono.

Os riscos ambientais do plano

Apesar dos esforços do governo, o plano ainda não foi divulgado e não se sabe quais exigências serão feitas às empresas. Além disso, especialistas apontam que ele foi elaborado sem a participação do Ministério do Meio Ambiente.

A grande preocupação é que a chegada das big techs ao país aconteça sem estudos de impacto e sem medidas de proteção ambiental. Os principais pontos de atenção são o alto consumo de água da IA, a demanda por energia e os efeitos em regiões com risco hídrico. A instalação de um data center pode aumentar rapidamente a demanda por recursos, sem que haja tempo para adaptações.

Em Iowa, nos Estados Unidos, a Microsoft chegou a bombear 41 milhões de litros de água para seus data centers durante o treinamento de uma das versões do GPT, o que representou 6% de toda a água do distrito em um mês.

O Brasil enfrentou a pior seca da história em 2024, com a falta de chuva afetando os níveis das bacias hidrográficas. O governo precisou tomar medidas de emergência, como o aumento do uso de usinas termelétricas, que são movidas a combustíveis fósseis e mais poluentes.

As secas estão se tornando mais frequentes e intensas, o que levanta preocupações sobre a segurança hídrica do país. É fundamental que o desenvolvimento econômico não comprometa o acesso à água, especialmente em regiões já vulneráveis.

Especialistas defendem que é preciso incluir estudos de impacto de longo prazo antes de permitir novas instalações, já que as empresas admitem que parte da água usada vem de regiões com escassez hídrica. Em 2023, a Microsoft informou que 42% da água utilizada veio de áreas com estresse hídrico, enquanto o Google indicou que 15% da água consumida teve origem em bacias com alta escassez hídrica.

Antes de atrair empresas, é essencial realizar estudos que analisem e orientem as políticas públicas, garantindo que a instalação de data centers seja segura e sustentável. No cenário atual, não dá para ignorar a questão climática.

O governo também é criticado por não tornar o plano público antes de apresentá-lo às empresas, impedindo a participação de especialistas e da sociedade civil em um debate que pode ter um impacto significativo. No final de 2024, uma empresa anunciou um investimento de R$ 3 bilhões para instalar um data center voltado ao processamento de dados de inteligência artificial no Rio Grande do Sul, um estado que enfrenta seca e está entre os mais afetados da Região Sul.

Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, lembra que milhões de brasileiros não têm acesso à água nas condições atuais e que a gestão dos recursos hídricos é urgente. O Ministério do Meio Ambiente informou que participará do processo de regulamentação da Política Nacional de Data Centers, mas não detalhou quais serão as medidas de proteção ambiental exigidas das empresas.

Existem alternativas para reduzir o consumo de água da IA?

As empresas de tecnologia estão cientes de que precisam de mais energia e água para continuar crescendo. O CEO da OpenAI, Sam Altman, já falou sobre isso publicamente. Um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) prevê que o consumo global de eletricidade dos data centers mais do que dobrará até 2030, impulsionado pela inteligência artificial.

A demanda deve passar de 415 TWh (terawatts-hora) para 945 TWh por ano, superando o consumo total de energia do Japão. Diante da escassez de recursos e da crise climática, as empresas estão buscando alternativas para ampliar suas operações e reduzir o impacto ambiental. Algumas opções incluem:

  • Desenvolver tecnologias que tornem as máquinas menos dependentes de água, com novos sistemas de resfriamento. A Microsoft publicou um estudo que mostrou que sistemas com placas de resfriamento podem reduzir o consumo de água em 30%.
  • Utilizar sistemas de resfriamento a ar, que usam o ar ambiente em vez de água.
  • Investir em energia solar.
  • Fazer parcerias com empresas para reutilizar água industrial, em vez de água potável.

A Microsoft chegou a testar um projeto de data center no mar, mas a iniciativa foi descontinuada. A maioria das soluções propostas pelas empresas ainda não estão próximas de serem implementadas.

O especialista em inteligência artificial Diogo Cortiz acredita que a própria IA pode ajudar a encontrar soluções para uma operação com menos impacto, mas essa é uma resposta que pode levar tempo para surgir. Enquanto isso, a tendência é que o consumo continue crescendo.

O engenheiro da computação Rudolf Buhler defende que o Brasil tem boas perspectivas para atrair esse tipo de tecnologia, desde que haja exigência e fiscalização para o cumprimento de metas ambientais. Para quem busca alternativas econômicas, veja Keychron B6 Pro: alternativa econômica ao Logitech MX Keys S.

As empresas também têm investido em ações de “devolução”, distribuindo água em áreas com vulnerabilidade hídrica para compensar o uso. No entanto, essa medida não resolve o problema nos locais impactados por suas operações.

Cortiz ressalta que a demanda por água e energia é um ponto crucial para a sustentabilidade dos negócios e que isso impulsiona parte das soluções. Mas, enquanto houver recursos disponíveis, eles continuarão sendo usados. É preciso cobrar políticas públicas e regulação para que haja limites.

O Google informou que está se esforçando para construir uma infraestrutura de computação mais eficiente em termos de energia, com práticas responsáveis de uso de água e um compromisso de minimizar o desperdício. A empresa afirma que, com projetos de gestão de água, reabasteceu 18% do consumo de água da IA em 2023.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificiado, mas escrito e revisado por um humano.

Via g1

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.