Entrevista com criadora de Clair Obscur revela bastidores e influências do jogo do ano

Conheça os detalhes da produção do indicado ao prêmio de melhor jogo do ano, incluindo influências e processo de criação de Clair Obscur.
Atualizado em 18/07/2025 às 11:32
Entrevista com criadora de Clair Obscur revela bastidores e influências do jogo do ano
Descubra os segredos e influências por trás de Clair Obscur, indicado a melhor jogo do ano. (Imagem/Reprodução: Tecmundo)
Resumo da notícia
    • Clair Obscur: Expedition 33 conquistou o público e foi considerado como um forte candidato a jogo do ano em 2025.
    • A entrevista com Jennifer Svedberg-Yen revela bastidores, inspirações literárias e o impacto da narrativa do jogo.
    • O sucesso do título se deve à história envolvente, personagens complexos e equipe formada por talentos diversos.
    • A criação da narrativa foi influenciada por livros, séries e experiências de expedições reais, como a da NASA.
    • O envolvimento emocional do elenco e os finais abertos do jogo favorecem reflexão e identificação dos jogadores.
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O primeiro semestre de 2025 trouxe uma grata surpresa para o mundo dos games: Clair Obscur: Expedition 33. Este título, lançado pelo pequeno estúdio francês Sandfall Interactive, composto por ex-desenvolvedores da Ubisoft, conquistou rapidamente o público. Sua qualidade inesperada o tornou um forte candidato a jogo do ano e um dos RPGs mais relevantes da última década.

Um dos pontos mais elogiados do jogo é sua história envolvente e seus personagens marcantes. Para entender melhor os bastidores, conversamos com Jennifer Svedberg-Yen, a principal escritora e produtora de localização da Sandfall Interactive. Ela compartilhou detalhes sobre a recepção do game e suas inspirações.

A Recepção de Clair Obscur: Expedition 33

Desde os primeiros dias após o lançamento, a comunidade demonstrou um carinho especial por Clair Obscur: Expedition 33. Os elogios e o apoio ao jogo foram notáveis. Jennifer Svedberg-Yen revelou que a equipe ficou surpresa com a dimensão do sucesso e da aceitação.

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Ela descreveu a experiência como “surreal”. A escritora lembra de trocar mensagens com Nicolas, o diretor de arte, questionando se tudo aquilo era real. A recepção superou em muito as expectativas iniciais do estúdio, que nunca imaginou um impacto tão positivo. Foi um sentimento de emoção avassaladora.

A equipe da Sandfall, apesar de ser relativamente pequena para o mercado atual de jogos, chamou a atenção por ser formada por talentos descobertos de maneiras incomuns. Jennifer comentou sobre sua própria trajetória e como suas experiências anteriores contribuíram para a narrativa de Expedition 33.

A escritora compartilhou sua jornada inesperada, que começou no mundo das finanças, trabalhando em banco de investimentos. Após anos de rotinas exaustivas, com 80 a 100 horas de trabalho semanais, ela decidiu buscar algo que trouxesse mais realização pessoal e artística, além de contribuir de alguma forma para o mundo.

Jennifer Svedberg-Yen em entrevista sobre o jogo Clair Obscur: Expedition 33.

Nos anos seguintes, ela explorou diversas atividades. Treinou jiu-jítsu brasileiro e Muay Thai, ensinou salsa cubana e até participou de uma missão de pesquisa humana da NASA, simulando uma expedição a um asteroide. Essa experiência de dois meses de isolamento em um módulo, com apenas quatro pessoas, foi fundamental para moldar sua visão sobre expedições.

Ela notou que os expedicionários em Clair Obscur são, em sua maioria, cientistas e engenheiros, e não guerreiros tradicionais. Essa escolha foi influenciada por sua vivência na simulação da NASA. A equipe da Sandfall Interactive foi formada de maneira peculiar, com membros encontrados em lugares improváveis.

Cena do jogo Clair Obscur: Expedition 33 mostrando um personagem em ambiente de expedição.

Jennifer, por exemplo, foi descoberta por Guillaume, o diretor do estúdio, através de uma postagem sobre dublagem no Reddit durante a pandemia de COVID-19. Embora não tivesse experiência formal em dublagem, sua audição a levou a dar voz a versões iniciais de personagens como Maelle e Lune em um projeto anterior de Guillaume.

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Outros membros também tiveram caminhos incomuns. Nicolas foi encontrado via ArtStation, sem experiência prévia na indústria de jogos. Lorian, o compositor, conheceu Guillaume em um fórum e compartilhou seu SoundCloud. Essa forma diversificada de montar a equipe, quase como em um RPG, uniu talentos de diferentes origens.

Entendendo a Narrativa Profunda

Além da jogabilidade e trilha sonora, a história de Clair Obscur se destaca por sua revelação gradual e por seus dois finais igualmente impactantes. A escritora Jennifer Svedberg-Yen explicou que suas inspirações vieram principalmente de livros e séries de TV, e não tanto de videogames em seus primeiros anos.

Ela mencionou que sua família tinha recursos limitados na infância, o que a levou a passar mais tempo em bibliotecas. Lá, os livros se tornaram uma grande fonte para suas narrativas. Somente após ingressar na Sandfall, ela começou a jogar ativamente para entender o meio, tornando-se, segundo ela, uma jogadora hardcore.

Jennifer se orgulha de ter platinado jogos como Elden Ring, God of War e God of War: Ragnarok. Ela também admira Disco Elysium pela narrativa e cita The Wheel of Time e as obras de Brandon Sanderson como grandes influências literárias, especialmente pela construção de mundo e sistemas lógicos de magia.

Visão panorâmica do mundo de Clair Obscur: Expedition 33, com monólitos ao fundo.

Ao desenvolver a história de Lumiere, ela mapeou 70 anos de eventos, considerando a lógica das consequências de uma cidade lançada no oceano. A série Battlestar Galactica também foi uma forte influência, por explorar questões filosóficas e diferentes pontos de vista, desconstruindo a ideia de “bem contra mal” e gerando complexidade moral.

As anotações das expedições anteriores, que os jogadores encontram no jogo, foram um elemento divertido de criar. Jennifer e Guillaume se basearam na lógica de como as táticas e tecnologias da época, como rádios ou carros antigos, poderiam ter sido usadas. Eles também exploraram diferentes formas de morte e encontros com criaturas, como o Nevron envenenando os expedicionários ou o Esquié acidentalmente matando-os.

Personagem de Clair Obscur: Expedition 33 em combate ou exploração.

Essas anotações também justificavam elementos do jogo, como ganchos e escadas, que fariam sentido terem sido instalados por expedições passadas para auxiliar futuras. Muitas ideias surgiram de piadas internas que evoluíram, como a Expedição 60, conhecida por usar o “puro poder dos músculos”.

Sobre os significados da história, Jennifer reforçou que um dos pilares era evitar o conflito simplista de “bem contra mal”. Em vez disso, focaram em personagens falhos, mas autênticos, que se importam uns com os outros. O conflito surge de diferentes perspectivas sobre o que precisa ser feito.

Ela destacou o dilema de equilibrar a proteção de alguém com o respeito à sua autonomia, exemplificado na relação entre Renoir e Maelle, ou Renoir e sua esposa, Aline. A história questiona se os personagens estão repetindo erros do passado ou se libertando deles. Maelle, por exemplo, levanta a questão da hipocrisia, deixando a interpretação para o jogador.

Personagens de Clair Obscur: Expedition 33 em uma cena emocional ou de diálogo.

O luto é um tema central, abordado de diversas formas: a perda de um futuro imaginado, de parte da identidade, de amizades, ideias ou oportunidades. A pandemia de COVID-19, com sua crise existencial e as variadas reações humanas (ajuda comunitária, fúria, negação, medo), influenciou profundamente a criação da narrativa.

Jennifer compartilhou que o luto generalizado e suas próprias experiências pessoais, como a de seu irmão médico na ala de COVID e a perda de entes queridos de amigos, foram canalizadas para a história. Ela mencionou uma frase de Sophie no jogo, “ama tanto seus filhos que a melhor coisa que pode fazer por eles é não tê-los”, que veio diretamente de um sentimento pessoal sobre as realidades do mundo.

Sobre os finais do jogo, Jennifer afirmou que não existe um “final correto” ou “errado”, nem um final oficial. A intenção foi levantar perguntas e deixar as respostas para a interpretação dos jogadores. O objetivo é que os jogadores vivenciem a jornada, entendam as diferentes perspectivas dos personagens e reflitam sobre seus próprios valores.

A escolha dos finais pode ser fácil para alguns e incrivelmente difícil para outros, e ambas as perspectivas são válidas, pois são moldadas pelas experiências de vida de cada um. A equipe quis garantir que o jogador tivesse controle sobre essa decisão, sem impor uma única mensagem. Isso permite que a história ressoe de formas diferentes com cada pessoa.

O Talento por Trás das Vozes

O sucesso de Clair Obscur também se deve ao trabalho do elenco de atores e intérpretes. Jennifer Svedberg-Yen descreveu como foi emocionante ver sua escrita ganhar vida nas vozes de talentos como Ben Starr e Jennifer English, conhecidos de outros videogames, e Andy Serkis e Charlie Cox.

YouTube video

Houve momentos de emoção e lágrimas no estúdio de gravação, especialmente durante as cenas dos finais. Jennifer admitiu que, no início, sentiu-se nervosa, questionando se o roteiro seria bom o suficiente para atores de tal calibre. Contudo, a experiência pessoal com eles foi incrível; os atores são profissionais e talentosos, entregando performances excelentes em poucas tomadas.

Ela se impressionou com a capacidade de Jennifer English de transitar rapidamente entre emoções intensas, chorando em uma cena e logo depois conversando calmamente. Os atores trouxeram grande nuance às performances, essencial para uma história que depende do subtexto e de personagens com emoções complexas, muitas vezes escondidas.

O elenco francês também foi crucial. Adeline Chetail, uma lenda da dublagem francesa, foi fantástica como Maelle, emocionando a escritora. Féodor Atkine, voz de Jafar e House na França, foi um Renoir excepcional. Alexandre Gillet, conhecido por dublar Sonic, Frodo e Capitão América, demonstrou versatilidade.

Além desses ícones, muitos outros atores promissores e experientes, que talvez não sejam tão conhecidos, adicionaram profundidade e autenticidade às performances. Jennifer considerou que o estúdio teve muita sorte em reunir um elenco tão talentoso e dedicado, que elevou a narrativa do jogo a um novo nível.

O Futuro de Clair Obscur e o Jogo do Ano

Com o adiamento de GTA VI para 2025, a possibilidade de Expedition 33 ser indicado ao Jogo do Ano no The Game Awards ganhou destaque. Jennifer expressou gratidão pelo apoio dos fãs brasileiros, que surpreenderam a equipe com o volume de mensagens e novos seguidores em suas redes sociais.

Ela afirmou que a equipe nunca esperou tamanha repercussão, nem as discussões sobre prêmios. A escritora se sentiria “absolutamente encantada só de ser indicada”. Para ela, ser nomeada já seria uma honra, sem criar expectativas de vitória, considerando a quantidade de jogos excelentes lançados e os que ainda virão.

Jennifer destacou que as mensagens dos fãs são, de certa forma, ainda mais significativas do que os prêmios. Embora reconheça o valor de uma premiação, especialmente na categoria “Melhor Narrativa”, ela prioriza o impacto direto no público. A corrida pelo Jogo do Ano é intensa, com muitos outros títulos de grande qualidade no páreo.

Arte conceitual ou cena de Clair Obscur: Expedition 33 com personagens.

Ela mencionou que, se não houver indicação para “Melhor Trilha Sonora”, ficaria “muito chateada”, devido ao trabalho incrível de Lorian. Jennifer agradeceu pela oportunidade da entrevista e por se conectar com os fãs brasileiros, reforçando o apreço pelo apoio e pelas palavras gentis sobre o jogo.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.