Harvard descobre que cópia da Magna Carta adquirida por R$ 150 é um original de 1300

Um manuscrito despretensioso, comprado por US$ 27,50 (pouco mais de R$ 150) após a Segunda Guerra Mundial, permaneceu na biblioteca da Faculdade de Direito de Harvard desde 1946, quase despercebido. A história desse documento está prestes a mudar drasticamente. Acadêmicos descobriram que o que se pensava ser uma cópia da Magna Carta de Harvard, na verdade, é uma versão original de 1300, um dos pilares das liberdades civis modernas.

Apenas seis exemplares autênticos desse mesmo ano sobrevivem até hoje. David Carpenter, professor de história medieval no King’s College de Londres, descreveu a descoberta como algo que jamais imaginaria em sua vida.

Estimar o valor exato do manuscrito é um desafio, mas o preço pago por ele o torna uma das maiores barganhas do século passado. Para se ter uma ideia, um exemplar da Magna Carta de 710 anos foi leiloado em 2007 por US$ 21,3 milhões (aproximadamente R$ 121 milhões).

Nicholas Vincent, da Universidade de East Anglia, ressaltou que o documento, que limita o poder dos governantes, surge em um momento crucial para Harvard, que enfrenta pressão do governo.

A Descoberta Inesperada da Magna Carta de Harvard

A redescoberta da Magna Carta foi, em grande parte, obra do acaso. Carpenter, em sua casa em Londres, analisava imagens digitais da biblioteca de Harvard para seu próximo livro quando se deparou com o arquivo HLS MS 172, o código do manuscrito 172 da Harvard Law School.

“Chego ao 172 e vejo uma única folha de pergaminho da Magna Carta“, relatou. “E pensei: ‘Meu Deus, isso me parece um original.'” Imediatamente, ele enviou um e-mail para Vincent, que estava trabalhando em Bruxelas.

Vincent respondeu em segundos: “Você e eu sabemos muito bem o que é isso!” A autenticidade foi confirmada após Harvard fotografá-lo com luz ultravioleta e submetê-lo a técnicas de imagem espectral.

A comparação com os outros seis originais de 1300 revelou total correspondência no texto e nas dimensões (489 mm x 473 mm). A caligrafia também era compatível, com um “E” maiúsculo no início da palavra “Edwardus” e letras alongadas na primeira linha. Amanda Watson, da Harvard Law School, descreveu a descoberta como o melhor tipo que pode acontecer a um bibliotecário.

O documento já foi exibido algumas vezes, mas não de forma permanente. A biblioteca ainda não decidiu se o manuscrito será acessível ao público, mas Watson afirmou que a venda é improvável. Jonathan Zittrain, professor de direito internacional, destacou a raridade de possuir algo com 700 anos nos Estados Unidos.

A Influência da Magna Carta Através dos Séculos

A Magna Carta, que significa “Grande Carta” em latim, tem sido usada ao longo da história para justificar diversas causas. O documento se consolidou como um símbolo global das liberdades fundamentais, como o habeas corpus. Ao limitar o poder do monarca, a Magna Carta passou a representar o direito à proteção contra ações arbitrárias do Estado.

Um de seus trechos mais importantes declara que “nenhum homem livre será capturado ou preso, ou privado de seus direitos ou bens, ou banido ou exilado, ou privado de sua posição de qualquer outra forma, nem agiremos com força contra ele, exceto pelo julgamento legal de seus iguais ou pela lei da terra.”

Emitida pela primeira vez em 1215, a carta formalizou concessões obtidas de um relutante rei João da Inglaterra. João revogou o documento, mas seu filho, Henrique III, publicou versões revisadas, a última em 1225. Eduardo I confirmou essa versão em 1297 e novamente em 1300.

A Magna Carta influenciou diretamente a Constituição dos Estados Unidos, e a Declaração de Direitos americana inclui disposições que remontam ao documento.

Detalhes da Aquisição e Significado Atual

Existem 25 manuscritos originais da Magna Carta, incluindo o de Harvard, apenas três estão fora do Reino Unido. A Faculdade de Direito de Harvard adquiriu seu exemplar de uma livraria jurídica de Londres, a Sweet & Maxwell, por US$ 27,50.

Apesar de sua fama, muitos britânicos têm apenas uma vaga noção do que a Magna Carta representa. O historiador Nicholas Vincent acredita que a redescoberta em Harvard veio em boa hora.

“A Magna Carta submete o rei ao império da lei”, afirmou Vincent. “O chefe de Estado não pode simplesmente agir contra alguém porque não gosta dessa pessoa – ele precisa fazê-lo com base na lei”. O texto da carta está incorporado nas constituições de 17 estados norte-americanos, destacou Vincent. “Em termos legais, há mais Magna Carta nos estados dos EUA do que no Reino Unido.”

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Segunda: Via InfoMoney