Huawei retorna ao Brasil com celular de R$ 33 mil

A Huawei marcou seu retorno ao mercado brasileiro de smartphones com a introdução de dois modelos dobráveis de alto padrão: o Mate XT Ultimate Design e o Mate X6. Esses lançamentos posicionam a marca diretamente no segmento premium, indicando uma estratégia focada em produtos de alta tecnologia e design sofisticado, mesmo diante de desafios regulatórios e de mercado.

O Retorno da Huawei ao Cenário Brasileiro de Smartphones

Após um período de ausência que se estendeu desde 2019, a Huawei oficializou sua volta ao mercado de celulares no Brasil. A empresa chinesa trouxe consigo dois dispositivos que refletem seu investimento em tecnologia de ponta no segmento de aparelhos dobráveis. O lançamento ocorreu durante um evento em São Paulo, na terça-feira, 17 de junho, sinalizando a reabertura de suas operações no país com foco em produtos de maior valor agregado.

Os novos celulares chegam com valores que os colocam entre os mais caros disponíveis atualmente no mercado nacional. O Huawei Mate XT Ultimate Design, com sua proposta de tela tripla, tem um preço de R$ 33.000. Já o Huawei Mate X6, que oferece uma tela dupla dobrável, custa R$ 22.999. Para contextualizar, o iPhone 16 Pro Max, um dos modelos mais caros da Apple, é vendido por R$ 15.499 no site oficial da fabricante, o que destaca o posicionamento de luxo dos aparelhos da Huawei.

A estratégia da Huawei com esses lançamentos não mira grandes volumes de vendas de imediato. O objetivo principal é conquistar uma parcela do mercado de smartphones dobráveis, divulgar a marca e, a longo prazo, abrir caminho para a introdução de modelos mais acessíveis. A empresa está ciente dos preços elevados e os justifica pela utilização de materiais e tecnologia de ponta, pelos custos significativos de pesquisa e desenvolvimento, pelas despesas logísticas de importação e pela carga tributária incidente no Brasil.

No cenário atual, o mercado de celulares dobráveis no Brasil ainda é bastante incipiente, representando apenas cerca de 0,1% do total de vendas de smartphones no país, conforme dados coletados em meados de 2025. Apesar da baixa penetração local, o mercado global de dobráveis está em ascensão, com projeções que indicam 25 milhões de unidades comercializadas em 2024, um aumento de 37,6% em relação a 2023. O valor do mercado brasileiro de smartphones dobráveis é estimado em aproximadamente US$ 634,35 milhões para 2025, o que demonstra um potencial de crescimento gradual dentro de um nicho de alto poder aquisitivo.

Design e Engenharia: Os Novos Dobráveis da Huawei

Os aparelhos lançados pela Huawei são um espetáculo de engenharia, com destaque para a tecnologia de telas flexíveis e o acabamento premium. O foco em design avançado e câmeras robustas reforça o posicionamento da marca no segmento de luxo, buscando atrair consumidores que valorizam a inovação e a diferenciação tecnológica em seus dispositivos móveis.

Huawei Mate XT Ultimate Design: A Tela Tripla em Destaque

O Huawei Mate XT Ultimate Design se sobressai por ser o primeiro smartphone do mundo a apresentar uma tela que se dobra em três partes. Essa funcionalidade permite que o aparelho seja utilizado em três tamanhos distintos: com uma tela de 6,4 polegadas quando totalmente dobrado, 7,9 polegadas na configuração de tela dupla e alcançando impressionantes 10,2 polegadas quando totalmente aberto. Todas as telas são do tipo OLED LTPO, com resolução 3K e uma taxa de atualização de 120 Hz, além de um brilho que pode atingir 1.800 nits.

A adaptabilidade da tela tripla oferece uma experiência de uso diferenciada, tornando atividades como a edição de documentos e vídeos consideravelmente mais confortáveis e imersivas. Além disso, a Huawei enfatiza que o Mate XT Ultimate Design é o dobrável mais fino do mundo quando totalmente aberto, com apenas 3,6 milímetros de espessura. Essa proeza de design foi alcançada, em parte, pela distribuição otimizada de suas baterias, que são fabricadas com ânodos de silício, uma tecnologia diferente do comum íon de lítio.

A bateria de 5.600 mAh do dispositivo suporta carregamento rápido de 66W com fio, 50W sem fio e até 7,5W de carregamento reverso. Para complementar a performance, o aparelho incorpora um sistema de resfriamento avançado que utiliza câmara de vapor, grafeno, cobre e aço. O conjunto de câmeras traseiras, com tecnologia XMAGE, inclui uma lente principal de 50 MP com estabilização óptica de imagem (OIS) e abertura variável (f/1.4 a f/4.0), uma lente ultra-angular de 12 MP (f/2.2) e uma lente periscópio de 12 MP com OIS e zoom de 5.5x. A câmera frontal para selfies conta com 8 MP.

Huawei Mate X6: Elegância e Desempenho em Dobro

O Huawei Mate X6 adota o formato de “livro” para sua tela dobrável dupla, oferecendo uma tela externa OLED LTPO de 6,45 polegadas com resolução de 1.080 x 2.440 pixels e uma tela interna OLED LTPO de 7,93 polegadas com resolução de 2.440 x 2.240 pixels. Ambas as telas operam com taxa de atualização de 120 Hz e um brilho máximo que pode chegar a 2.500 nits, proporcionando imagens vívidas e fluidas. Quando totalmente aberto, o Mate X6 tem uma espessura de 4,6 milímetros, combinando um design elegante com portabilidade.

No que tange ao desempenho, o Mate X6 é equipado com o chip Kirin 9020, acompanhado de 12 GB de memória RAM e 512 GB de armazenamento interno. A bateria de 5.110 mAh suporta o carregamento rápido de 66W via USB-C e 50W sem fio. O sistema de câmeras traseiras é composto por um sensor principal de 50 MP, uma lente ultra-angular de 40 MP e uma lente teleobjetiva de 38 MP com zoom óptico de 4x. Para as selfies e chamadas de vídeo, o aparelho conta com uma câmera frontal de 8 MP, disponível tanto na tela interna quanto na externa.

Os dois modelos dobráveis chegam ao mercado brasileiro com conectividade que inclui Wi-Fi 6 (Mate X6) ou Wi-Fi 7 (Mate XT), Bluetooth 5.2 ou 5.3, GPS e NFC. O sistema operacional de ambos é o HarmonyOS, desenvolvido pela Huawei a partir de uma versão de código aberto do Android, que busca oferecer uma experiência fluida para os usuários. A chegada desses dispositivos, que também competem com outros modelos dobráveis no mercado, marca uma nova fase para a Huawei no Brasil.

Desafios e Estratégias da Huawei no Mercado Brasileiro

Apesar de toda a inovação tecnológica, os novos celulares da Huawei enfrentam obstáculos relevantes no Brasil, principalmente devido às sanções impostas pelos Estados Unidos. Essas restrições afetam diretamente a conectividade 5G dos aparelhos e o acesso nativo a serviços essenciais do Google, elementos que são padrão para a maioria dos consumidores brasileiros.

As Consequências das Sanções e a Ausência do 5G

Um dos pontos cruciais que impactam os Mate XT Ultimate Design e Mate X6 é a ausência de suporte para a internet 5G. Embora o 5G tenha se tornado um padrão para novos celulares no Brasil desde seu lançamento em 2022, os dispositivos da Huawei não podem oferecer essa tecnologia. Isso se deve às sanções do governo dos Estados Unidos, que proíbem empresas americanas de fazerem negócios com a Huawei, impedindo o fornecimento de chips necessários para a conexão 5G. Essa limitação de velocidade pode ser um fator decisivo para consumidores que buscam o que há de mais recente em termos de conectividade, visto que o 5G pode ser até 13 vezes mais rápido que o 4G, alcançando 360 megabits por segundo (Mbps), em comparação com 27 Mbps do 4G, de acordo com dados da OpenSignal coletados entre novembro de 2023 e janeiro de 2024.

A Experiência do Usuário com o HarmonyOS e Aplicativos

Outro desafio significativo é o sistema operacional. O HarmonyOS, embora robusto, não possui acesso nativo aos aplicativos e serviços do Google, como Gmail, YouTube, Google Maps e, especialmente, a Play Store. Para ter acesso a esses serviços, os usuários precisam recorrer à AppGallery, a loja de aplicativos da Huawei, e baixar ferramentas intermediárias, como MicroG e GBox. Essas ferramentas não são desenvolvidas pela Huawei, mas a empresa afirma ter realizado validações de privacidade e segurança antes de disponibilizá-las.

Essa necessidade de utilizar soluções alternativas para acessar plataformas amplamente utilizadas no cotidiano brasileiro, como WhatsApp, Instagram e os próprios serviços Google, pode gerar uma curva de aprendizado para os usuários e impactar a conveniência. A empresa deixou de vender celulares no Brasil em 2019, justamente após as sanções, que resultaram na perda da licença para atualizações do Android e o impedimento de incluir os aplicativos do Google de fábrica. A adoção de uma versão de código aberto do Android e o desenvolvimento do HarmonyOS são as formas encontradas pela Huawei para contornar essa proibição, mas o ecossistema de aplicativos permanece um ponto de atenção para os consumidores.

Apesar desses obstáculos, a Huawei está confiante em sua estratégia de posicionamento no mercado de luxo. A empresa acredita que a singularidade e a inovação de seus modelos dobráveis, como o Mate XT Ultimate Design e o Mate X6, são atributos que atrairão um público seleto disposto a investir em tecnologia de ponta. A entrada da marca em um segmento tão específico é um indicativo de que a Huawei busca, primeiro, reestabelecer sua imagem de empresa de tecnologia de ponta no país, antes de expandir para categorias de produtos mais acessíveis.

Panorama Futuro da Huawei no Brasil e o Mercado Global

O retorno da Huawei ao mercado de smartphones brasileiro com dispositivos dobráveis de alto custo é um movimento estratégico para consolidar sua presença e preparar o terreno para futuras expansões. A empresa não se limita apenas aos celulares, investindo também em outras categorias de produtos para fortalecer seu ecossistema no Brasil.

Diversificação e Novos Produtos: O Ecossistema Huawei

Além dos smartphones, a Huawei aproveitou a ocasião para lançar uma série de smartwatches no Brasil, ampliando seu portfólio de produtos conectados. Entre os destaques, estão o Huawei Watch, com um preço inicial de R$ 4.499, e as versões esportivas Huawei Watch Fit 4 e Huawei Watch Fit 4 Pro, que custarão R$ 1.499 e R$ 2.499, respectivamente. O Huawei Watch oferece funcionalidades interessantes, como a capacidade de espelhar o celular no relógio com um cartão virtual de operadora, permitindo fazer e receber chamadas sem a necessidade de ter o smartphone por perto. Outra inovação é o controle do dispositivo com apenas uma mão, por meio de movimentos de pinça entre o polegar e o indicador.

Essa aposta em um ecossistema diversificado de dispositivos, que inclui também fones de ouvido, tablets e notebooks, demonstra a intenção da Huawei de oferecer uma experiência integrada aos seus usuários, mesmo com as restrições no segmento de smartphones. A empresa não tem planos imediatos de abrir uma manufatura no Brasil, preferindo exportar os produtos exclusivamente da China, o que, juntamente com os custos de importação e impostos, justifica os preços mais elevados em comparação com o mercado chinês.

A homologação dos aparelhos pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ainda está em fase final, mas a Huawei anunciou que as vendas começarão “em breve” em diversas plataformas online e em lojas físicas de grandes varejistas. Os produtos estarão disponíveis nas páginas oficiais da Huawei na Amazon, Shopee, Mercado Livre e TikTok Shop, além de redes como FastShop e Casas Bahia. Isso mostra a intenção da Huawei de alcançar os consumidores através de múltiplos canais de venda.

O retorno da Huawei acontece em um cenário competitivo no Brasil, onde marcas como Samsung e Apple dominam a maior parte do mercado, com 39% e 7% de participação, respectivamente, em 2024. Outras fabricantes como Motorola, Oppo, Realme, Jovi e Xiaomi também estão presentes. A Huawei, apesar dos desafios, busca seu espaço no segmento de alto valor. O mercado de tecnologia está em constante evolução, com inovações como novos modelos dobráveis de concorrentes surgindo, o que exige das empresas adaptação e resiliência para atender às demandas de um público cada vez mais exigente.