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Uma investigação do jornal The Guardian sugere que a Microsoft, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, teria um papel no monitoramento de cidadãos palestinos por parte de Israel. Fontes militares israelenses e da própria Microsoft indicaram que os servidores da plataforma Azure da Microsoft foram utilizados por uma unidade de inteligência. A apuração sugere que milhões de ligações de palestinos foram gravadas e armazenadas nos centros de dados da companhia.
Não é a primeira vez que a Microsoft é mencionada em contextos envolvendo Israel e Palestina. A empresa já havia sido apontada, no início do ano, por supostamente auxiliar a inteligência israelense na identificação e bombardeio de alvos. Essas informações reforçam a complexidade das relações entre grandes corporações de tecnologia e conflitos geopolíticos.
Truque de Espionagem com a Azure da Microsoft
A história, conforme apurado, começou no final de 2021. O CEO da Microsoft, Satya Nadella, se encontrou com Yossi Sariel, um comandante da Unidade 8200, a força de inteligência de Israel. Sariel, que liderou essa divisão até o fim de 2024, teria um plano de grande alcance para a parceria com a empresa de tecnologia.
O objetivo do encontro era estabelecer uma colaboração estratégica. A inteligência israelense planejava usar os servidores Azure da Microsoft para guardar dados sigilosos. Para Nadella, talvez fossem apenas informações militares confidenciais. Contudo, para Sariel, o plano envolvia uma vigilância em massa de milhões de palestinos, e o acordo foi adiante.
A cooperação entre as partes resultou na criação de um sistema de coleta de dados. Esse sistema começou a operar em 2022 e foi projetado para registrar milhões de chamadas telefônicas diárias de palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Uma quantidade considerável de informações pessoais de milhares de cidadãos foi guardada nesse repositório.
Fontes da Microsoft afirmam que seu CEO não tinha conhecimento dos detalhes dessa operação da Unidade 8200. No entanto, outras fontes diferentes confirmam que essas gravações foram salvas na plataforma de nuvem da Microsoft. A amplitude do projeto e o volume de dados indicam uma operação de grande escala.
Espionagem em Grande Escala
A intenção de Sariel não se limitava a monitorar alvos específicos ou estratégicos para a guerra. Um oficial que trabalhou com o comandante na época revelou que as diretrizes eram de “rastrear todo mundo, a todo o tempo”. Para cumprir essa meta, era essencial utilizar uma plataforma de dados robusta e com muita tecnologia de ponta. Afinal, registrar as ligações de milhões de pessoas exige um grande espaço de armazenamento.
Uma das fontes detalhou que o sistema analisava todas as mensagens trocadas entre palestinos na Cisjordânia e atribuía um nível de risco a elas. Conhecido como “noisy messages” (mensagens com ruído), o sistema identificava conteúdos relacionados a armas e fatalidades. Essa funcionalidade permitia uma triagem rápida de comunicações consideradas relevantes pela inteligência.
Embora Satya Nadella não soubesse as intenções da Unidade 8200 no início do acordo, engenheiros da Microsoft provavelmente ficaram cientes meses depois. “Você não precisa ser um gênio para descobrir isso”, escreveu uma fonte, mencionando que a Unidade entrou em contato com a Microsoft porque os servidores já estavam cheios. Especificamente, lotados de arquivos de áudio, indicando o tipo de dado que estava sendo armazenado.
Apesar do conhecimento, a diretriz interna na Microsoft era que os funcionários envolvidos no projeto não citassem a Unidade 8200 diretamente. Certos documentos mostram que, em julho deste ano, servidores da empresa localizados nos Países Baixos continham cerca de 11.500 terabytes de dados militares. Esse volume equivale a aproximadamente 200 milhões de horas de arquivos de áudio.
A documentação também sugere que a Unidade 8200 planejava transferir cerca de 70% de seus dados para os servidores da Azure. O acervo de informações da inteligência teria sido usado para pesquisas e para identificar alvos que, posteriormente, seriam bombardeados por Israel. Este planejamento indica uma integração profunda e contínua do sistema.
As Respostas da Microsoft e Israel
Em resposta a um contato do The Guardian, um porta-voz da Microsoft afirmou não ter informações sobre o tipo de dado que a Unidade 8200 armazena em sua plataforma de nuvem. O porta-voz comentou que o “envolvimento com a Unidade 8200 tem se baseado no fortalecimento da segurança cibernética e na proteção de Israel contra ataques cibernéticos de Estados-nação e terroristas”.
Quando questionado sobre o encontro de Nadella e Sariel em 2021, o representante da Microsoft declarou que o CEO participou apenas por dez minutos no final da reunião. Segundo ele, não houve discussão sobre a possibilidade de a unidade transferir seus dados para a Azure. No entanto, registros internos da Microsoft, consultados pelo The Guardian, indicam que Nadella ofereceu “apoio à aspiração de Sariel”.
O veículo também contatou o próprio Sariel, que direcionou os questionamentos para as Forças de Defesa de Israel (FDI). A entidade militar confirmou que colabora com empresas como a Microsoft. As FDI afirmam que essas parcerias são baseadas em “acordos legalmente supervisionados”. A organização acrescentou que suas operações seguem o direito internacional, com o objetivo de combater o terrorismo e garantir a segurança do Estado e de seus cidadãos.
- Ainda conforme os registros, a Microsoft considerou essa oportunidade como bastante lucrativa para a Azure, demonstrando o interesse comercial na parceria.
- O sistema tem capacidade para armazenar as ligações de palestinos por cerca de um mês, mas essa duração pode ser estendida, sugerindo flexibilidade operacional.
- Algumas fontes apontam que a tecnologia também teria evitado ataques que poderiam ter sido mortais contra tropas israelenses no conflito.
- No entanto, o sistema de espionagem não conseguiu prevenir o ataque do Hamas que resultou em mais de mil mortes e no sequestro de 240 pessoas em 2023, indicando uma falha na inteligência.
- Yossi Sariel renunciou ao cargo no ano passado, aceitando a responsabilidade pelo “fracasso” da operação de inteligência da Unidade 8200.
A situação sublinha a interseção entre o desenvolvimento tecnológico e as complexas dinâmicas de segurança e privacidade em cenários de conflito. As implicações da utilização de serviços de nuvem em larga escala por agências de inteligência continuam sendo um tema de debate.
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