Irlanda e a Lenda da Ilha Brasil: Mito ou Realidade?

Saiba como a ilha lendária Brasil se conecta com a história do nosso país.
Atualizado há 1 dia
Irlanda e a Lenda da Ilha Brasil: Mito ou Realidade?
Descubra a relação fascinante entre a ilha lendária Brasil e nossa história. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • A lenda da Ilha Brasil, uma terra mítica irlandesa, atraiu navegadores aventureiros ao longo dos séculos.
    • Se você já se perguntou sobre as origens do nome “Brasil”, esta história pode te surpreender.
    • Essa narrativa enriquece a compreensão cultural sobre a história entre Brasil e Irlanda.
    • O debate sobre a origem do nome do Brasil permanece relevante nos estudos acadêmicos contemporâneos.
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Já imaginou que o nome do nosso país pudesse ter raízes em lendas irlandesas? Durante séculos, navegadores europeus acreditaram na existência de uma ilha mítica chamada Brasil, um paraíso de saúde e juventude eterna, situada na costa da Irlanda. Essa crença, enraizada no folclore celta, inspirou diversas expedições e foi retratada em mapas antigos. Mas será que essa ilha lendária tem alguma ligação com o Brasil que conhecemos hoje?

A Ilha Brasil: Um Mito Irlandês com Nome Brasileiro

Por mais de 500 anos, enquanto a geografia do mundo ainda era um mistério, uma ilha misteriosa apareceu em mapas da Europa, perto da costa da Irlanda. Essa ilha, que nunca existiu de verdade, era conhecida como Brasil. Navegadores europeus, antes e depois da chegada às Américas, vasculharam o Atlântico em busca desse paraíso terrestre, um lugar de saúde, alegria e juventude eterna, segundo o folclore celta.

A primeira representação cartográfica da ilha Brasil surgiu em um mapa-múndi medieval por volta de 1280. Até 1873, a ilha foi retratada em pelo menos 121 mapas, de acordo com o jornalista Geraldo Cantarino, autor de “Uma Ilha Chamada Brasil: o Paraíso Irlandês no Passado Brasileiro”. A tradição celta contava que a ilha, quase sempre coberta por uma névoa densa, raramente se revelava aos navegantes, aparecendo apenas uma vez a cada sete anos. No entanto, ninguém jamais conseguiu alcançá-la. A ilha surgia e desaparecia, sendo essa a história de Hy Brasil, outro nome pelo qual era conhecida.

Ilhas Lendárias e o Mar Tenebroso

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A ilha Brasil era apenas uma entre várias ilhas lendárias que surgiram nos mapas durante a exploração europeia do Atlântico. Antes da chegada às Américas, o Atlântico era um lugar misterioso, apelidado de “mar tenebroso”, onde muitos navegadores se aventuravam, mas poucos retornavam. Aqueles que sobreviviam traziam histórias de criaturas fantásticas e lugares míticos, frequentemente retratados pelos cartógrafos, como sereias e monstros marinhos. Alguns mapas que mostravam a ilha Brasil também incluíam outros lugares míticos. Um mapa de 1424 de Zuane Pizzigano, por exemplo, localizava a ilha ao norte de Satanazes, possivelmente inspirada em lendas da mitologia nórdica, e de Antilia, um arquipélago que apareceu em mapas por cerca de 150 anos, mas que nunca foi encontrado.

A lenda da ilha Brasil foi transmitida oralmente por séculos na Irlanda, antes da chegada do cristianismo, e mais tarde imortalizada em contos, poemas, canções e artes visuais. Cantarino encontrou dezenas de poemas sobre Hy Brasil, todos carregados de emoção, descrevendo-a como um lugar de coisas boas, música e alegria. Em um país frio e chuvoso como a Irlanda, a ilha representava um sonho e um desejo. Um dos poemas encontrados foi o de Gerald Griffin, um escritor irlandês do século 19, intitulado “Hy-Brazil – The Isle of the Blest“, que descreve a ilha como uma “terra enigmática”, “de luz e descanso”, a “ilha dos bem-aventurados”.

A ilha também aparece na obra de James Joyce, um dos maiores autores em língua inglesa, que a representou no romance “Finnegans Wake” com o neologismo Kerribrasilian, uma fusão de “brasilian” com o nome do condado de Kerry. Joyce menciona a ilha em referência a São Brandão, um monge irlandês do século 6º que partiu em busca da ilha, acreditando ser uma espécie de terra prometida. Além das artes, “Brasil” também influenciou a cultura irlandesa de forma mais mundana, aparecendo em sobrenomes comuns como Brassil, Brassill, Brazier, Brazil, Brazill e Brazzill.

A Conexão Entre a Ilha Brasil e o Nosso País

A história milenar do mito e suas diversas manifestações, como a apropriação pelo cristianismo na lenda de São Brandão e sua reprodução em centenas de mapas, levaram alguns autores a sugerir que a ilha também influenciou o nome do Brasil. Mariana Bolfarine, professora de Letras da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), afirma que essa hipótese é comum na área de estudos irlandeses. Em seu doutorado, ela estudou Roger Casement, um diplomata britânico que defendeu que o Brasil devia seu nome à mitologia celta.

Casement argumentava que o nome Brasil já existia no imaginário europeu séculos antes da colonização das Américas, como evidenciado pelos mapas da época, e que histórias como a de São Brandão inspiraram muitas viagens marítimas. Segundo ele, o nome da ilha teria chegado à Península Ibérica através do tráfego marítimo de Portugal e Espanha, e eventualmente ao Brasil. Para Casement, o apagamento da relação entre a Irlanda e o nome do Brasil ocorreu devido ao desprezo cultural dos acadêmicos ingleses pelo país.

A ilha Brasil chegou a ser mencionada por historiadores brasileiros como Capistrano de Abreu e Laura de Mello e Souza, como uma imagem medieval que persistia na mentalidade dos primeiros europeus que chegaram à América e que poderia ter influenciado na escolha do nome. No entanto, essa hipótese não ganhou muita adesão. A versão mais conhecida e ensinada nas escolas é que o país foi batizado em homenagem à árvore de madeira vermelha explorada por Portugal nos primeiros anos da colonização, o pau-brasil, com a palavra Brasil derivada de “brasa”, em referência à cor da madeira.

O Mistério da Origem do Nome Brasil

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Gustavo Barroso, o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional, mencionou a história da ilha Brasil em seu livro “O Brasil na Lenda e na Cartografia Antiga”, de 1940, e sugeriu que a “tradição e o hábito” podem ter solidificado a hipótese do pau-brasil. Renato de Mattos, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que a questão da origem do nome do Brasil deve permanecer sem resposta. Ele argumenta que o tema não é uma prioridade para a historiografia brasileira e sequer chega a ser um objeto de controvérsia. Para ele, o processo de colonização é mais importante do que quem descobriu tal lugar.

Cantarino aponta que o mistério sobre quem deu nome ao nosso país também contribui para a incerteza. Pedro Álvares Cabral chamou-o de Ilha de Vera Cruz, seguido por Terra de Santa Cruz, Ilha dos Papagaios e, finalmente, Brasil. A discussão entre os historiadores sempre envolve a raiz da palavra, o que veio primeiro e o que veio depois. O curioso, segundo ele, é que 500 anos depois, ainda não se sabe quem deu esse nome ao nosso país.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de S.Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.