Plataformas de amigos artificiais crescem no Brasil com personagens como MC Paiva

Plataformas de IA simulam relacionamentos e ganham popularidade no Brasil, com personagens como MC Paiva. Entenda o fenômeno e seus impactos.
Atualizado em 29/05/2025 às 11:26
Plataformas de amigos artificiais crescem no Brasil com personagens como MC Paiva
Plataformas de IA geram relações virtuais e conquistam o Brasil com personagens cativantes. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • Plataformas de amigos artificiais, como Character.AI e Polybuzz, estão se popularizando no Brasil, com personagens como MC Paiva.
    • Essas plataformas oferecem interações personalizadas, mas levantam debates sobre ética e saúde mental.
    • O fenômeno reflete a crescente solidão na era digital e a busca por conexões alternativas.
    • Gigantes como Meta e Google estão investindo no setor, indicando um mercado em expansão.
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Com a crescente busca por conexões em um mundo cada vez mais digital, os amigos artificiais no Brasil estão ganhando espaço, impulsionados por plataformas de inteligência artificial. Empresas como Meta e Google, antes focadas em redes sociais, agora investem em personagens de IA para simular relacionamentos, explorando um mercado em expansão.

Esses bots, que oferecem companhia e interações personalizadas, têm atraído a atenção de muitos usuários, levantando questões sobre o impacto da tecnologia na saúde mental e nas relações humanas. Será que estamos caminhando para um futuro onde a amizade virtual suplanta os laços reais?

Popularidade dos ‘Amigos Artificiais’ no Brasil

O site Character.AI, líder nesse segmento, já figura entre os 100 mais acessados no Brasil. Outra plataforma popular, a Polybuzz, cobra R$ 50 por mês para acesso a personagens com interações mais íntimas, incluindo conversas de voz ilimitadas. Essa estratégia tem se mostrado lucrativa, posicionando o aplicativo entre os 30 mais rentáveis nos Estados Unidos e no Brasil, de acordo com dados da Sensor Tower.

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Um dos personagens de maior sucesso na Polybuzz é o MC Paiva, um funkeiro milionário e pai protetor. Essa figura, que cativa o público brasileiro, demonstra como a inteligência artificial pode ser moldada para atender aos gostos e fantasias dos usuários. No entanto, essa crescente popularidade levanta debates sobre os limites éticos e emocionais dessas interações.

Jovens compartilham vídeos no TikTok mostrando amizades e até relacionamentos amorosos com esses personagens virtuais, personalizáveis em aparência e comportamento. A influenciadora Debora Oliveira, que acumula 800 mil seguidores abordando o tema com humor, adverte sobre os riscos de desenvolver sentimentos por esses bots. A linha tênue entre a diversão e o envolvimento emocional exige atenção.

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Outros aplicativos como Chai e Emochi também ganham destaque por sua abordagem mais liberal em relação ao conteúdo das conversas. A Meta já testou personagens de IA baseados em celebridades, enquanto o Google contratou os fundadores da Character.AI, indicando um forte interesse das gigantes da tecnologia nesse mercado em ascensão.

A Solidão na Era Digital e a Busca por Companhia Artificial

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, reconheceu a crescente demanda por companhia artificial. Em entrevista, ele mencionou que o americano médio sente que tem apenas três amigos, quando gostaria de ter 15. Para Zuckerberg, ainda existe um estigma em relação à interação emocional com chatbots, mas ele acredita que, com o tempo, a sociedade encontrará um vocabulário para justificar esse comportamento.

No entanto, pesquisadores apontam que Zuckerberg estaria propondo uma solução para um problema que ele mesmo ajudou a criar. O crescente sentimento de solidão, exacerbado pelas redes sociais, paradoxalmente encontra alívio nesses amigos artificiais. A tecnologia, que prometia conectar pessoas, estaria, na verdade, incentivando a substituição dos laços humanos.

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“Criaram uma tecnologia [as redes sociais] que no princípio pretendia aumentar os laços entre as pessoas, e, na verdade, ela vai se mostrando cada vez mais uma tentativa de substituir os laços”, afirma a psicóloga Vera Iaconelli, colunista da Folha. Essa substituição, segundo ela, pode ter consequências negativas para a saúde mental e o bem-estar das pessoas.

A pesquisa da Meta, realizada pelo instituto Gallup, revela que o nível de isolamento autodeclarado no Brasil é semelhante ao dos Estados Unidos, com 15%. No entanto, os jovens brasileiros relatam um menor sentimento de apoio social: 34% afirmam não se sentirem queridos pelas pessoas, contra 25% nos Estados Unidos. Esses dados reforçam a urgência de se discutir o impacto da tecnologia nas relações humanas.

A Inteligência Artificial como ‘Amiga’: Uma Solução ou um Problema?

Sundar Pichai, CEO do Google, defende que a tecnologia pode ajudar os amigos a estarem mais disponíveis. Segundo ele, a IA permitirá que as pessoas sejam mais prestativas umas com as outras. Uma nova ferramenta do Google, por exemplo, permitirá acessar arquivos e e-mails do usuário para escrever respostas em seu lugar, facilitando o auxílio a amigos e evitando que pedidos de ajuda sejam esquecidos.

“Eu poderia ser um amigo melhor”, disse Pichai ao apresentar o recurso, que estará disponível por meio de uma assinatura anual de R$ 980. O Google garante que a ferramenta só funcionará com o consentimento do usuário e que os dados não serão utilizados para outras finalidades. Será que essa é uma forma legítima de fortalecer os laços de amizade?

Vera Iaconelli questiona se os amigos autorizariam que suas informações e comunicações fossem mediadas por uma máquina. Zuckerberg também mencionou que as pessoas usam a inteligência artificial como terapeutas ou para ensaiar discussões difíceis, buscando apoio e orientação para tomar decisões. Essa crescente dependência da IA levanta preocupações sobre a capacidade de desenvolver habilidades sociais e emocionais.

Para Zuckerberg, a tecnologia precisa de mais dados para atender aos desejos mais subjetivos dos usuários. “À medida que o ciclo de personalização começa a funcionar e a IA passa a conhecê-lo cada vez melhor, acredito que isso será realmente fascinante.” Essa busca por personalização, no entanto, pode levar a um isolamento ainda maior, onde as interações são cada vez mais restritas a um universo virtual sob medida.

Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, recorda que, desde a revolução industrial, existe a promessa de que a tecnologia ajudará as pessoas a economizar tempo. No entanto, a janela de ociosidade diminuiu pouco desde então. Ao utilizar essas novas ferramentas, as pessoas evitariam atividades mais humanas, como pensar no que dizer aos amigos ou planejar um final de semana afetuoso com os filhos, sobrando mais tempo para navegar pelas plataformas, ver anúncios personalizados e comprar.

“Isso que aparentemente, na fantasia, na superfície, é uma grande invenção, no fundo, é o avanço de uma forma organizada de roubar a vida das pessoas, a sua intimidade, a sua imaginação, os seus afetos, a sua elaboração intelectual”, afirmou Bucci. A busca por eficiência e praticidade pode estar nos afastando do que realmente importa: a conexão humana.

De acordo com Iaconelli, a interação excessiva com os modelos de linguagem pode prejudicar a sociabilidade dos usuários, já que os chatbots se comportam para atender aos seus pedidos. A psicanalista alerta para o risco de perder as ferramentas necessárias para sustentar encontros presenciais e relações duradouras, já que a convivência real exige lidar com a contradição, o confronto e as demandas do outro.

Para a psicanalista, a inteligência artificial é incapaz de substituir o afeto humano. “É que nem comer comida industrializada, é gostoso para caramba, você sente até que está se alimentando, só que não está.” A busca por conexões fáceis e instantâneas pode nos afastar da riqueza e complexidade das relações humanas, que exigem tempo, investimento e a capacidade de lidar com as imperfeições do outro.

Os avanços tecnológicos trazem consigo novas possibilidades e desafios. No caso dos amigos artificiais no Brasil, é fundamental refletir sobre o impacto dessas ferramentas na nossa saúde mental e na forma como nos relacionamos. A busca por conexão e afeto é inerente ao ser humano, mas é preciso questionar se a tecnologia é o melhor caminho para suprir essa necessidade. Afinal, a amizade verdadeira, com suas alegrias e desafios, continua sendo um dos pilares de uma vida plena e significativa.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.
Via Folha de São Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.