O que aconteceu com o LimeWire, programa icônico da pirataria digital?

Entenda a trajetória do LimeWire, de programa pirata a plataforma de armazenamento, e como ele reflete as mudanças na tecnologia digital brasileira.
Atualizado há 6 dias atrás
O que aconteceu com o LimeWire, programa icônico da pirataria digital?
LimeWire: de pirataria à inovação, reflexo da evolução digital brasileira. (Imagem/Reprodução: Tecmundo)
Resumo da notícia
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O cenário da música digital mudou drasticamente nos últimos vinte anos. No início dos anos 2000, enquanto a compra legal de álbuns digitais era limitada e o CD dominava as mídias físicas, a pirataria de arquivos no formato MP3 era comum. Ferramentas como o LimeWire se destacaram, enfrentando processos e marcando uma época em que baixar arquivos era um desafio.

A história do LimeWire: Da pirataria ao retorno inesperado

O LimeWire era um programa do tipo P2P, ou peer-to-peer, que permitia o download e compartilhamento de arquivos em diversos formatos. Usando essa tecnologia, similar à de outros programas da época, os usuários podiam acessar uma rede descentralizada com um vasto acervo de músicas, filmes e outros materiais sem custo.

O projeto surgiu em 2000, idealizado por Mark Gorton. Antes disso, Gorton construiu sua carreira como investidor em Wall Street, o centro financeiro dos Estados Unidos. Ele possuía a Lime Brokerage, uma corretora focada em negociações automatizadas e outras tecnologias, que inspirou o nome do programa de compartilhamento.

A interface do LimeWire. (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
A interface do LimeWire. (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O Napster foi uma influência indireta para o LimeWire, sendo o pioneiro na distribuição de arquivos MP3 e a primeira vítima de grandes processos contra a pirataria. Mesmo assim, Gorton acreditava que seu programa teria um destino diferente. A ideia era criar uma alternativa robusta e duradoura para o compartilhamento de arquivos.

No seu auge, o serviço alcançou números impressionantes, mostrando sua ampla aceitação entre os usuários da internet. Esses dados sublinham a dimensão do fenômeno que o programa se tornou na década de 2000, moldando hábitos de consumo de conteúdo digital em massa.

  • O LimeWire teve cerca de 50 milhões de usuários antes de ser desativado.
  • A receita do serviço cresceu de US$ 6 milhões em 2004 para US$ 20 milhões apenas dois anos depois.
  • Em 2007, uma pesquisa da BigChampagne indicou que o programa estava instalado em mais de um terço (36,4%) dos PCs globalmente, em um levantamento com 1,66 milhão de pessoas.
  • Já em 2009, um estudo revelou que 58% das pessoas que já haviam baixado música de uma rede P2P usavam o programa.
  • Sua popularidade gerou uma comunidade ativa que chegou a criar uma versão de código aberto, o FrostWire, embora sem o mesmo impacto do original.

Escrito em Java, o LimeWire começou operando discretamente e utilizando a rede Gnutella, o que resultava em downloads lentos. Com o tempo, o Lime Group desenvolveu sua própria infraestrutura, fazendo com que o serviço se destacasse em meio aos concorrentes da época, oferecendo uma experiência mais ágil.

Imagem: Divulgação/LimeWire
Imagem: Divulgação/LimeWire

O programa contava com uma interface simples, focada na busca e download dos arquivos desejados. Era considerado mais leve e seguro que o Kazaa, e mais fácil de usar que o eMule. O LimeWire também gerou receita significativa ao oferecer uma versão Pro, que incluía suporte e downloads mais rápidos, e por meio da inclusão de anúncios ou softwares no instalador da versão gratuita.

O declínio e o fim da primeira fase

O LimeWire operou por aproximadamente uma década, um período considerável para programas dessa categoria, que frequentemente eram alvo de ações judiciais por grandes conglomerados da indústria musical e de filmes. Sua longevidade demonstrava a dificuldade das gravadoras em conter a disseminação de arquivos digitais.

O declínio do LimeWire aconteceu em paralelo à queda definitiva de outros serviços similares da mesma época. Muitos dos softwares que sobreviveram, como o eMule, hoje são utilizados por uma parcela muito menor de usuários que um dia dependeram dessas plataformas para obter músicas e filmes.

  • Em 26 de outubro de 2010, o LimeWire encerrou suas atividades após uma decisão judicial nos Estados Unidos, que condenou a empresa por “infração em escala massiva” de direitos autorais de obras de artistas.
  • O processo foi iniciado em 2006 pela Recording Industry Association of America (RIAA), a principal representante das gravadoras no país, e levou quatro anos para ser concluído.
  • Na acusação, a RIAA alegou que o LimeWire causou “centenas de milhões de dólares em receita” perdidas para as gravadoras, sendo um dos fatores pela queda de renda do setor entre 1999 e 2009.
Image may contain Human Person Clothing Apparel Building Bridge Face Sleeve and Smile
Mark Gorton, o fundador e CEO do Lime Group. (Imagem: Reprodução/Wired)
  • Em vez de aceitar um acordo, como o Kazaa fez, o LimeWire contra-atacou, alegando que a RIAA tinha “atividades anticompetitivas” e “práticas comerciais enganatórias” ao tentar restringir as operações do programa. Essa discordância foi o motivo para o processo se estender por tanto tempo.
  • Como tentativa de evitar o fechamento, o LimeWire chegou a anunciar a criação de um serviço legalizado de compra de músicas digitais chamado Spoon, mas o plano não foi aprovado pelas autoridades e levaria mais de um ano para ser implementado.
  • Segundo notícias da época, o acordo entre o Lime Group (que já havia passado por demissões) resultou no pagamento de uma indenização de US$ 105 milhões.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Para complicar a situação do programa, sua reputação na nova década já não era a mesma. Naquele período, a rede estava cheia de malwares disfarçados de arquivos legítimos e compartilhamento de materiais criminosos, incluindo conteúdos de abuso, um problema que também afetava outros programas P2P. Essa degradação da qualidade da rede afastava os usuários.

O próprio setor de download de arquivos não oficiais estava passando por uma mudança: o torrent já era visto como uma alternativa mais segura para o compartilhamento, enquanto plataformas legalizadas se espalhavam. A iTunes Store já oferecia música paga desde 2003, e serviços de streaming como o Deezer (2007) e o Spotify (2008) começavam a surgir, mudando o consumo musical.

A marca que renasceu: O novo LimeWire

Em 2022, o mercado de tecnologia foi surpreendido com o aparente retorno do LimeWire. Contudo, desta vez, ele não oferece o download de arquivos da internet, e não há qualquer envolvimento do seu criador original. A marca original expirou e foi simplesmente adquirida por uma nova empresa para um novo propósito.

A versão atual do LimeWire é bem diferente do serviço que o tornou famoso duas décadas atrás. Agora, ele funciona como um serviço de armazenamento e compartilhamento de arquivos, similar a ferramentas como WeTransfer e Dropbox, sem a necessidade de instalar um programa no computador.

limewire-site-novo
O “novo” serviço é na verdade só um reaproveitamento da marca. (Imagem: Reprodução/LimeWire)

É possível enviar arquivos de até 4 GB para outras pessoas sem precisar criar uma conta, e os links permanecem ativos por uma semana. Junto do lançamento, a companhia também introduziu uma criptomoeda: o token LMWR. Ele pode ser usado como forma de pagamento e recompensa para os usuários mais ativos da plataforma.

A empresa também oferece planos Premium, com preços a partir de US$ 9,99 (equivalente a cerca de R$ 55,60), que incluem mais espaço de armazenamento e ferramentas de inteligência artificial (IA) para criar vídeos e imagens. Este recurso utiliza modelos de linguagem de outras empresas, como OpenAI, Google e Stable Diffusion, ampliando as funcionalidades do serviço.

Antes dessas novidades, a empresa havia tentado explorar o setor de tokens não-fungíveis (NFTs). A proposta inicial era colaborar com músicos e gravadoras, ironicamente os mesmos que derrubaram a versão original do programa. No entanto, essa ideia, como grande parte do mercado de NFTs, foi abandonada.

O LimeWire, de programa de compartilhamento de arquivos à nova plataforma com foco em IA e criptomoedas, reflete as constantes transformações do mercado de tecnologia. A reinvenção de marcas antigas demonstra a busca por novas oportunidades em segmentos emergentes, adaptando-se às tendências atuais do mundo digital.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.