O que os roedores sem cérebro revelam sobre a saciedade

Pesquisas com roedores sem cérebro mostram que a saciedade não depende da consciência. Entenda como isso pode impactar dietas.
Atualizado em 04/05/2025 às 08:01
O que os roedores sem cérebro revelam sobre a saciedade
A saciedade pode ocorrer sem consciência, mudando a forma como entendemos dietas. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • Pesquisa revela que a sensação de saciedade não depende da consciência em estudos feitos com roedores.
    • Você pode compreender melhor os sinais de fome e saciedade em seu corpo.
    • Estudos sugerem novos caminhos para medicamentos em controle de apetite, podendo ajudar a combater a obesidade.
    • Novas descobertas podem mudar a forma como abordamos a alimentação e o controle do peso.
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Você já se perguntou se realmente temos controle sobre o que comemos? Essa questão complexa é crucial para entendermos por que tantas pessoas lutam para seguir dietas. Para investigar isso, o neurocientista Harvey J. Grill realizou um estudo intrigante com ratos, removendo quase todo o cérebro deles, exceto o tronco cerebral, responsável por funções vitais como respiração e batimentos cardíacos. Será que, mesmo sem a parte consciente do cérebro, esses animais saberiam quando estavam satisfeitos?

O experimento com roedores

Para responder a essa pergunta, Grill pingou alimento líquido diretamente na boca dos ratos. Surpreendentemente, ele observou que, ao atingir um certo ponto, os animais simplesmente deixavam o alimento escorrer, indicando que estavam satisfeitos. Esses estudos, iniciados há décadas, revelaram que a sensação de saciedade não depende da consciência.

Essas descobertas ganharam ainda mais importância com o surgimento de medicamentos para perda de peso, como o Ozempic, que atuam nos sistemas de controle de alimentação do cérebro. A pesquisa não explica por que algumas pessoas são mais propensas à obesidade, mas oferece pistas sobre os mecanismos que nos fazem começar e parar de comer.

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Jeffrey Friedman, pesquisador de obesidade na Universidade Rockefeller, destaca que, embora a maioria dos estudos tenha sido feita em roedores, é provável que os humanos funcionem de maneira semelhante. Afinal, nossa evolução resultou em vias neurais complexas que regulam a alimentação. Então, como exatamente esse controle funciona?

Os sinais que o cérebro recebe

Os pesquisadores descobriram que o cérebro está constantemente recebendo sinais sobre a densidade calórica dos alimentos. O corpo precisa de uma certa quantidade de calorias, e esses sinais garantem que essa necessidade seja atendida. O processo começa antes mesmo da primeira mordida: a visão do alimento já estimula os neurônios a prever quantas calorias ele contém. Alimentos ricos em calorias, como manteiga de amendoim, provocam uma resposta mais intensa do que alimentos de baixa caloria, como ração para ratos.

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O próximo ponto de controle ocorre quando o animal prova o alimento. Nesse momento, os neurônios recalculam a densidade calórica com base nos sinais enviados da boca para o tronco cerebral. Por fim, quando o alimento chega ao intestino, um novo conjunto de sinais permite que o cérebro determine novamente o conteúdo calórico.

Zachary Knight, neurocientista da Universidade da Califórnia, descobriu que o intestino avalia principalmente o conteúdo calórico, e não a fonte das calorias. Ele observou que, ao colocar diferentes tipos de alimentos (gordura, carboidrato e proteína) diretamente no estômago de ratos, cada um com o mesmo número de calorias, a mensagem para o cérebro era a mesma: os neurônios sinalizavam a quantidade de energia, e não a origem das calorias.

O sinal para parar de comer

Quando o cérebro determina que calorias suficientes foram consumidas, ele envia um sinal para parar de comer. Knight se surpreendeu com essa descoberta, pois imaginava que o sinal de saciedade seria uma comunicação direta entre o intestino e o cérebro, uma sensação de estômago cheio que levaria a uma decisão consciente de parar de comer.

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Algumas dietas populares tentam usar essa lógica, incentivando as pessoas a beberem muita água antes das refeições ou a se satisfazerem com alimentos de baixa caloria, como aipo. No entanto, Knight descobriu que os ratos não enviam sinais de saciedade para o cérebro quando recebem apenas água, o que explica por que esses truques raramente funcionam a longo prazo.

É claro que as pessoas podem decidir comer mesmo quando estão satisfeitas, ou optar por não comer quando estão tentando perder peso. Outras áreas do cérebro também exercem controle sobre a alimentação, mas, no final, os mecanismos automáticos do cérebro geralmente prevalecem sobre as decisões conscientes.

Scott Sternson, neurocientista da Universidade da Califórnia, explica que uma grande parte do controle do apetite é automática. Podemos até conseguir controlar nossos impulsos por um tempo, mas essa atenção requer muitos recursos mentais e, eventualmente, o processo automático acaba dominando.

Surpresas e descobertas sobre Robôs humanoides

Os pesquisadores continuam a se surpreender com a complexidade dos sistemas de controle de alimentação do cérebro. Por exemplo, a resposta do cérebro à visão do alimento é muito mais rápida do que se imaginava. Estudos mostraram que, em ratos, alguns milhares de neurônios no hipotálamo respondem à fome. O jejum ativa esses neurônios, enquanto a alimentação os acalma. Acreditava-se que esses neurônios respondiam às reservas de gordura do corpo, mas a realidade é mais complexa.

Quando os cientistas mostraram comida aos ratos famintos, os neurônios da fome se desligaram quase instantaneamente, antes mesmo da primeira mordida. Isso sugere que o cérebro faz uma previsão com base na aparência do alimento, estimando quantas calorias ele contém. Alimentos mais ricos em calorias provocam uma resposta ainda maior, desligando mais neurônios.

Para confirmar essa teoria, os cientistas desligaram os neurônios da fome em ratos que não tinham comido muito. Esses animais simplesmente pararam de comer, mesmo com comida bem na frente deles. O oposto também é verdade: ao ligar os neurônios da fome em ratos que acabavam de fazer uma refeição farta, os animais se levantaram e comeram ainda mais.

Novas estratégias para controlar a alimentação

Essas descobertas estão abrindo caminho para novas estratégias de desenvolvimento de medicamentos para controlar a alimentação. Amber Alhadeff, neurocientista do Centro de Sentidos Químicos Monell, descobriu que os medicamentos para obesidade GLP-1 ativam dois grupos distintos de neurônios no tronco cerebral.

Um grupo sinaliza que o animal já comeu o suficiente, enquanto o outro causa náusea. Os medicamentos atuais para obesidade afetam ambos os grupos, o que pode explicar os efeitos colaterais que muitas pessoas sentem. Alhadeff sugere que seria possível desenvolver medicamentos mais seletivos, que atingissem apenas os neurônios da saciedade, evitando os da náusea.

Alexander Nectow, da Universidade Columbia, identificou um grupo de neurônios no tronco cerebral que regula o tamanho desejado de uma refeição, rastreando cada mordida de comida. Ele está investigando se esses neurônios poderiam ser alvos de uma nova classe de medicamentos para perda de peso, ainda mais eficazes do que os GLP-1s.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de S.Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.