O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, surpreendeu o país ao decretar a lei marcial na Coreia do Sul nesta terça-feira (03/12). Essa medida, que restringe liberdades políticas e confere poderes aos militares, é a primeira desde a democratização do país em 1987. A decisão intensificou as tensões políticas que já estavam em alta.
A oposição, que possui a maioria no Parlamento, imediatamente repudiou o decreto. Uma moção para revogar a lei marcial foi aprovada pelos deputados, levando Yoon a recuar e suspender a medida pouco depois. Essa situação reflete um cenário político conturbado, onde a confiança no governo vem diminuindo.
Yoon Suk Yeol: O “Sérgio Moro coreano”
Yoon Suk Yeol, um novato na política, se filiou ao Partido do Poder Popular (PPP) em 2021. Em 2022, ele venceu a eleição presidencial com um discurso focado no combate à corrupção, superando seu adversário por uma margem de apenas 0,73%. Antes de sua carreira política, Yoon ganhou notoriedade como promotor de Justiça, liderando investigações que resultaram na condenação de ex-presidentes por corrupção.
Com 63 anos, Yoon foi comparado a Sérgio Moro, ex-juiz brasileiro, devido à sua trajetória de combate à corrupção. Ele foi procurador-geral em 2017, nomeado pelo então presidente Moon Jae-in, e sua passagem pelo governo foi marcada por conflitos com figuras ligadas ao governo anterior.
Durante sua campanha, Yoon fez declarações controversas, como atribuir a baixa taxa de natalidade da Coreia do Sul ao feminismo, propondo até mesmo a extinção do Ministério da Igualdade de Gênero e da Família. Essas afirmações geraram críticas e contribuíram para sua queda de popularidade.
Queda de Popularidade e Crise Política
Desde que assumiu o cargo em maio de 2022, Yoon enfrentou um impasse político constante com a oposição. Inicialmente, seu índice de aprovação era de 53%, mas caiu para 23% em setembro de 2024, segundo pesquisa da Gallup Korea. As principais razões para essa desaprovação incluem planos de expansão de cotas em faculdades de medicina e questões econômicas.
As eleições gerais de abril deste ano mostraram a força da oposição, que obteve uma vitória significativa, enfraquecendo ainda mais a presidência de Yoon. Ele passou a ser visto como um “pato manco”, um termo que descreve um líder com poder em declínio. O Partido Democrático, liderado por Lee Jae-myung, rival de Yoon, continua a ser uma força dominante na política sul-coreana.
Além disso, Yoon enfrenta escândalos envolvendo sua esposa, que incluem acusações de manipulação de ações e plágio. Esses episódios têm contribuído para a deterioração de sua imagem pública e a perda de apoio popular.
Imposição da Lei Marcial e Reações Populares
Ao justificar a imposição da lei marcial na Coreia do Sul, Yoon afirmou que a medida era necessária para proteger o país de “forças comunistas”. No entanto, essa decisão foi vista como uma resposta a conflitos com a Assembleia Nacional, dominada pela oposição. A medida foi anunciada em um momento crítico, quando o PPP e o PD estavam em desacordo sobre o orçamento do próximo ano.
A lei marcial transfere o controle do governo civil para os militares, limitando liberdades civis e impondo toques de recolher. Essa decisão gerou uma forte reação entre a população, que a considera um retrocesso democrático, evocando memórias do regime militar que governou o país entre 1961 e 1987.
Protestos eclodiram em várias cidades, com grupos de direitos humanos condenando o impacto da lei marcial nas liberdades individuais. A insatisfação popular é um reflexo do clima político tenso e da falta de confiança no governo.
Desafios Adicionais e Conflitos com a Classe Médica
Outro desafio enfrentado por Yoon é sua proposta de aumentar a cota de admissão em faculdades de medicina. Ele planeja adicionar 2.000 vagas anuais por uma década para combater a falta de médicos, especialmente em áreas rurais. Embora a proposta tenha recebido apoio inicial, a comunidade médica se opõe, argumentando que não resolve problemas estruturais.
Greves de médicos, iniciadas em fevereiro, paralisaram setores essenciais do sistema de saúde, resultando na recusa de atendimento em emergências. Yoon se recusa a ceder às demandas da classe médica, o que agrava ainda mais a crise.
Além dos desafios internos, Yoon também enfrenta dificuldades na política externa, especialmente em relação à Coreia do Norte. Sua postura firme e alinhada aos Estados Unidos tem intensificado as tensões com Pyongyang, que recentemente reforçou suas alianças com a Rússia.
O cenário político na Coreia do Sul continua a evoluir, e a situação de Yoon Suk Yeol permanece incerta. A imposição da lei marcial na Coreia do Sul e as reações populares indicam que o país pode estar à beira de uma nova fase de turbulência política.
Via DW