Sebastião Salgado e a transformação de uma fazenda devastada em floresta

Sebastião Salgado e Lélia Wanick transformaram uma fazenda degradada em uma floresta, salvando 2 mil nascentes. Conheça essa incrível história de recuperação ambiental.
Atualizado há 4 horas atrás
Sebastião Salgado e a transformação de uma fazenda devastada em floresta
De uma fazenda degradada a uma floresta vibrante: a recuperação de 2 mil nascentes. (Imagem/Reprodução: Super)
Resumo da notícia
    • Sebastião Salgado e Lélia Wanick reflorestaram uma fazenda em Minas Gerais, salvando mais de 2 mil nascentes.
    • O projeto visa restaurar a biodiversidade e promover o desenvolvimento sustentável na região.
    • A iniciativa beneficiou pequenos produtores rurais e trouxe de volta espécies animais ameaçadas.
    • O Instituto Terra, criado pelo casal, expandiu sua atuação para mais de 2 mil hectares.
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Em 1998, o renomado fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa Lélia Wanick deram início a um projeto ambicioso: revitalizar a fazenda da família Salgado, um lugar que testemunhou a infância do fotógrafo. A propriedade, localizada em Aimorés, Minas Gerais, estava devastada e necessitava de um olhar atento. O que começou como um sonho se transformou no Instituto Terra, uma das ONGs mais importantes do Brasil, responsável por salvar mais de 2 mil nascentes.

A volta para casa e o choque com a realidade

Após uma longa temporada no exterior, dedicados ao projeto Êxodos, Sebastião Salgado e Lélia Wanick retornaram ao Brasil em 1998. Durante esse período, Salgado já havia conquistado reconhecimento mundial por suas fotografias impactantes, que retratavam a vida de pessoas forçadas a se deslocar em 35 países, muitos deles assolados por guerras e tragédias.

Ao visitarem a Fazenda Bulcão, o casal se deparou com um cenário desolador. A propriedade, antes um refúgio de rios e florestas exuberantes, estava completamente degradada, com o solo árido e exposto devido ao uso excessivo para pastagens. A paisagem que Salgado guardava na memória havia se transformado em sinônimo de secura.

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As chuvas, que antes traziam alívio, agora causavam enxurradas que arrastavam a terra e abriam buracos no solo. Diante daquele quadro, o casal, que havia testemunhado tantas cenas de sofrimento ao redor do mundo, não conseguiu conter as lágrimas. Aquele era o lar de Salgado, e vê-lo daquela forma era dilacerante.

Foi então que Lélia Wanick teve uma ideia que mudaria o rumo da história daquela terra: “Vamos plantar uma floresta aqui?”. A sugestão, que a princípio pareceu ousada, se revelou um projeto complexo, mas que traria esperança e transformação para a região.

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O nascimento do Instituto Terra

Lélia Wanick, em uma entrevista de 2015, relembrou o início da jornada: “Na minha cabeça, sairíamos de férias para plantar um bando de árvores. De repente, não era nada disso. Plantar uma floresta de Mata Atlântica é muito difícil, depende de muito tempo, muitas variáveis, muitos fundos e, sobretudo, muita gente para ajudar”.

Um engenheiro florestal estimou que seriam necessárias 2,5 milhões de árvores para restaurar os 700 hectares da Fazenda Bulcão. O desafio era enorme, mas o casal não se intimidou. Em novembro de 1999, plantaram as primeiras dez mil mudas, marcando o nascimento do Instituto Terra.

O que começou com uma pequena equipe formada pelo casal, um engenheiro florestal e dois vaqueiros, hoje conta com 126 colaboradores, além de inúmeros doadores e patrocinadores. No entanto, o número de humanos ainda é pequeno se comparado à quantidade de novos moradores que a fazenda recebeu ao longo dos anos.

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Mais de 7 milhões de mudas foram plantadas, transformando a área em uma “floresta criança”, como Lélia Wanick carinhosamente a chama. Sebastião Salgado, compartilhando do mesmo sentimento, comparou o plantio de uma árvore à criação de um filho: “Tem que tomar conta para ele sobreviver até ser um adulto. Tem que plantar, proteger de formiga, do fogo, das ervas daninhas, do capim. Tem que tomar conta até os cinco anos de idade, aí sim ela é um ser livre”.

O retorno da vida e o impacto na região

Embora as árvores ainda não sejam totalmente maduras, as mais de 300 espécies típicas da Mata Atlântica já trouxeram inúmeros benefícios para a região. Os primeiros animais a retornarem foram aqueles que se alimentam diretamente dos vegetais, como insetos, aves e pequenos mamíferos.

O retorno desses animais atraiu predadores, que por sua vez atraíram outros ainda maiores, restabelecendo a cadeia alimentar. Em 2011, a comunidade celebrou a notícia de que uma família de jaguatiricas estava vivendo na fazenda. Treze anos depois, a alegria se repetiu com a identificação de famílias de onças-pardas e lobos-guará, indicando um ecossistema complexo e autossuficiente.

Outros animais, ainda mais vulneráveis, também encontraram refúgio na Fazenda Bulcão. O sagui-da-serra, um primata da Mata Atlântica em perigo crítico de extinção, agora tem um lar seguro na região. Além disso, o reflorestamento dos 600 hectares originais trouxe de volta mais de 2 mil nascentes para a bacia do rio Doce. Essas nascentes haviam desaparecido devido à falta de sombra, solo protegido e vegetação nativa.

O retorno da água impactou diretamente as famílias da região, em especial os pequenos produtores rurais, que também sofriam com a seca e a degradação do solo. Atualmente, o Instituto Terra desenvolve programas de educação ambiental para a comunidade local, com foco no desenvolvimento sustentável e agroecológico da região. Inclusive, vale lembrar que a Agtech argentina Calice levanta R$ 14 milhões para expandir no Brasil.

Expansão e legado do Instituto Terra

Em 2024, com os 700 hectares originais quase totalmente restaurados, o Instituto Terra expandiu sua área de atuação para mais de 2 mil hectares. Hoje, a organização também oferece programas de educação ambiental para todas as idades, realiza pesquisas científicas e cultiva mudas e abelhas nativas.

O trabalho no Instituto Terra também influenciou a carreira de Sebastião Salgado. Após concluir o projeto Êxodos, o fotógrafo se sentia deprimido e descrente no futuro da humanidade. No entanto, ao testemunhar o retorno da vida em Aimorés, ele recuperou a fé e a vontade de fotografar.

Foi então que Salgado iniciou o projeto Genesis, em 2013, que o levou a viajar pelo mundo para retratar a conexão entre a natureza e os povos indígenas. “Eu terminei o Genesis muito mais otimista – não em relação à espécie humana, mas ao planeta”, afirmou Salgado. “As espécies das formigas e das baleias são tão importantes quanto a espécie humana. Eu percebi que, de qualquer forma, o planeta vai viver.” E por falar em meio ambiente, novos estudos descartam sinais de vida no planeta K2-18b.

O projeto de Sebastião Salgado e Lélia Wanick demonstra que é possível transformar áreas degradadas em florestas exuberantes, resgatando a biodiversidade e promovendo o desenvolvimento sustentável. O Instituto Terra é um exemplo inspirador de como a dedicação e o amor à natureza podem gerar resultados surpreendentes.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Superinteressante

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.