Há 100 anos, Einstein fazia sua icônica visita ao Brasil

Einstein visitou o Brasil há 100 anos, trazendo impressões complexas e curiosidades sobre sua jornada.
Atualizado há 7 horas
Há 100 anos, Einstein fazia sua icônica visita ao Brasil
Einstein no Brasil: um encontro de genialidade e curiosidades há 100 anos. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • Albert Einstein desembarcou no Brasil em 1925, marcando uma visita histórica.
    • A visita trouxe grande expectativa e gerou reflexões sobre sua visão do continente.
    • As impressões de Einstein realmente influenciaram o interesse pela ciência no Brasil.
    • No entanto, ele também expressou preconceitos que agora levantam discussões sobre a época.
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Há 100 anos, Albert Einstein, o renomado físico, fez uma visita de Einstein ao Brasil, deixando um misto de admiração e condescendência. Sua passagem pelo Rio de Janeiro, Argentina e Uruguai revelou um olhar curioso sobre a América do Sul. O cientista, já famoso por sua Teoria da Relatividade, foi recebido com grande expectativa, mas suas impressões sobre o continente foram complexas e multifacetadas.

A Chegada de Einstein ao Brasil

Em 21 de março de 1925, o navio Cap Polonio atracou no Rio de Janeiro, trazendo a bordo Albert Einstein. Recebido por um comitê de médicos, engenheiros e pelo rabino Isaiah Raffalovich, Einstein iniciou uma jornada de quase 50 dias pela América do Sul. Anotações em seu diário, publicadas no livro “Os Diários de Viagem de Albert Einstein – América do Sul 1925”, detalham a chegada em uma manhã chuvosa de outono.

Após o desembarque, Einstein fez um breve passeio pelo Jardim Botânico e desfrutou de um almoço no Copacabana Palace com o jornalista Assis Chateaubriand, cujo jornal “O Jornal” cobriu amplamente a visita. A beleza do Rio de Janeiro causou uma forte impressão no cientista. “Supera os sonhos de ‘As Mil e Uma Noites’”, escreveu ele, descrevendo a experiência como “maravilhosa”.

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A passagem pelo Rio de Janeiro foi apenas uma escala. Einstein seguiu para Buenos Aires, Argentina, onde permaneceu por cerca de um mês, antes de visitar Montevidéu, no Uruguai. No dia 5 de maio, ele retornou ao Brasil para uma estadia mais longa.

O Desembarque e a Recepção no Rio

No desembarque, Einstein conversou com o médico do navio, a quem descreveu como um “homem educado”. A embarcação chegou ao Rio de Janeiro ao pôr do sol, com um clima agradável. No cais, foi recebido por professores e membros da comunidade judaica, que o levaram para o Hotel Glória, no centro da cidade.

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As comunidades judaicas da América do Sul desempenharam um papel crucial na vinda de Einstein. Elas foram as primeiras a convidá-lo, buscando elevar seu status. “Ele era o judeu mais famoso do mundo naquela época”, afirma Ze’ev Rosenkranz, editor do Projeto Einstein Papers no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).

Alfredo Tolmasquim, autor de “Einstein: O Viajante da Relatividade na América do Sul”, explica que o rabino Raffalovich queria mostrar que os judeus não eram apenas comerciantes, mas também intelectuais. Em 1925, a maioria dos judeus no Brasil eram imigrantes que trabalhavam no comércio.

A Agenda de um Rock Star da Ciência

Apesar da insistência inicial, Einstein aceitou o convite sob a condição de que as visitas tivessem fins acadêmicos. Sua agenda no Brasil, e em toda a América do Sul, foi intensa. Além de palestras lotadas no Automóvel Clube, com cerca de 2.000 pessoas, Einstein conversou com jornalistas e discursou na Rádio Sociedade, a primeira rádio do Brasil. Ele até experimentou vatapá com pimenta, um prato típico, e apareceu em um jornal brasileiro.

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Einstein também conheceu o então presidente Arthur Bernardes, visitou o Pão de Açúcar de bondinho e o Corcovado, que na época ainda não tinha o Cristo Redentor. No entanto, suas impressões sobre os sul-americanos nem sempre foram positivas. Em seus diários, ele escreveu sobre os sul-americanos de formas nem sempre elogiosas.

Em uma passagem polêmica, ele escreveu: “Aqui sou uma espécie de elefante branco para eles, e [eles são macacos para mim](https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2024/05/einstein-visitou-brasil-a-contragosto-e-chamou-cientista-de-macaco-mostram-diarios.shtml)”. O trecho se refere à palestra no Clube de Engenharia. Em outra anotação, ele chamou o diretor da Faculdade de Medicina, Aloísio de Castro, de “legítimo macaco”.

As Controvérsias e os Preconceitos de Einstein

Tolmasquim argumenta que o termo “macaco” nos anos 1920 não tinha a mesma conotação de hoje. “Tinha relação com uma atitude boba, tola, de macaquice”, explica. Naquela época, havia um forte apoio a políticas de “embranquecimento” da população brasileira, e muitos europeus acreditavam que o clima tropical era prejudicial ao intelecto.

Rosenkranz, no livro dos diários de viagem de Einstein, afirma que o cientista tinha uma visão condescendente dos brasileiros, referindo-se a eles como “fofinhos” de forma afetuosa, mas, em alguns momentos, chegando perto de desumanizá-los. “Ele tinha preconceitos com povos latinos”, diz o historiador. “Mas ele também mudou de opinião ao longo do tempo e defendeu direitos civis aos negros nos EUA mais tarde. Ele era um pacifista e simpático às minorias.” É importante lembrar que robôs no WhatsApp podem disseminar informações falsas, então é sempre bom verificar as fontes.

Durante sua visita de Einstein, ele visitou o Observatório Nacional e o Museu Nacional, que chamou de museu de história natural. Na época, o Brasil tinha apenas uma universidade, a Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920. No entanto, nenhuma de suas faculdades era focada em pesquisa. Matemáticos e engenheiros autodidatas foram os que demonstraram maior interesse nas teorias de Einstein.

O Eclipse de Sobral e a Teoria da Relatividade

O Brasil desempenhou um papel importante na popularização de Einstein. Um eclipse em Sobral (CE) em 1919 foi um marco para a Teoria da Relatividade. A teoria previa que a luz das estrelas seria desviada pela gravidade do Sol, e a observação do eclipse permitiu medir esse desvio.

Uma expedição com pesquisadores estrangeiros e brasileiros, liderada por Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, foi organizada para observar o fenômeno. “A questão que surgiu em minha mente foi respondida pelos céus ensolarados do Brasil”, escreveu Einstein, que acompanhou os resultados à distância.

Tolmasquim explica que o Brasil do início do século 20 tinha uma forte tradição positivista, acreditando que a ciência newtoniana era completa. “O pensamento predominante até então era de que não se devia gastar muito tempo investindo em pesquisa, porque o que havia para ser descoberto, já tinha sido, o importante era aplicar os conhecimentos”, afirma.

O Legado da Visita de Einstein

A repercussão da Teoria da Relatividade na imprensa causou confusão. “Einstein nunca disse que tudo é relativo, ele fala sobre a relatividade do espaço e do tempo em relação a um observador, mas alguns jornalistas interpretaram a teoria dessa forma errônea, confundiram relatividade e relativismo, e houve certo esvaziamento da teoria”, opina Tolmasquim.

A viagem à América do Sul não teve grandes impactos na ciência de Einstein nem na ciência brasileira. “Mas foi uma viagem importante para dar visibilidade a novos pensamentos da época de valorização da pesquisa científica e construção da ciência de uma forma mais sistemática no país”, conclui Tolmasquim. Inclusive, o avanço da IA pode ser comparado à relatividade de Einstein, pois a migração cognitiva: o impacto da IA no futuro do trabalho, está transformando o mercado.

A visita de Einstein ao Brasil, portanto, foi um evento complexo, marcado por admiração mútua, mas também por preconceitos e incompreensões. Apesar das controvérsias, a passagem do cientista pelo país contribuiu para popularizar a ciência e inspirar novos pensamentos sobre pesquisa e conhecimento.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de S.Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.