Macacos-prego sequestram filhotes de bugios em ilha no Panamá

Cientistas registram comportamento inédito de macacos-prego sequestrando filhotes de bugios em ilha no Panamá. Entenda o caso.
Atualizado há 7 horas atrás
Macacos-prego sequestram filhotes de bugios em ilha no Panamá
Macacos-prego sequestram filhotes de bugios em comportamento inédito no Panamá. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • Macacos-prego na ilha de Jicarón, no Panamá, sequestraram filhotes de bugios, levando-os à morte por desidratação ou inanição.
    • O objetivo da notícia é informar sobre um comportamento animal incomum e suas possíveis motivações.
    • O impacto inclui a preocupação com a conservação das espécies e o entendimento de comportamentos inovadores em primatas.
    • O caso também levanta questões sobre a influência do tédio e da falta de predadores no comportamento dos macacos.
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Em um comportamento surpreendente, macacos-prego na ilha de Jicarón, no Panamá, têm sequestrado filhotes de bugios, levando-os à morte por desidratação ou inanição. Ecologistas do Instituto Max Planck de Comportamento Animal registraram 11 casos de jovens macacos-prego machos raptando bebês bugios. A prática, possivelmente iniciada por um macaco apelidado de Coringa, intriga cientistas que investigam as motivações por trás desses atos.

Comportamento Incomum Registrado na Ilha Jicarón

Zoë Goldsborough, ecologista do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha, se deparou com uma cena inusitada ao analisar imagens de câmeras remotas na ilha de Jicarón, no Panamá. Um filhote de bugio estava agarrado às costas de um macaco-prego-de-cara-branca, algo raro, já que as duas espécies geralmente não interagem. A descoberta levou a uma investigação mais aprofundada, revelando um comportamento ainda mais surpreendente.

Em um artigo publicado na revista Current Biology, Goldsborough e seus colegas descreveram como jovens macacos-prego machos sequestraram filhotes de bugios em diversas ocasiões, carregando-os por dias. Infelizmente, as vítimas não resistiram, morrendo de desidratação ou fome. A situação chocou os pesquisadores, que não esperavam presenciar tal comportamento.

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Brendan Barrett, antropólogo evolucionista do Instituto Max Planck e orientador de doutorado de Goldsborough, comparou a experiência de assistir às imagens com a sensação de ver um filme de terror. A equipe, que geralmente foca no uso de ferramentas de pedra pelos macacos-prego, desviou sua atenção para entender esses sequestros e assassinatos de filhotes.

A História de Coringa e a Imitação do Comportamento

Entre janeiro de 2022 e julho de 2023, os pesquisadores documentaram 11 casos de filhotes de bugios sendo carregados por cinco jovens macacos-prego machos diferentes. Acredita-se que a tendência tenha começado com um indivíduo apelidado de Coringa, devido a uma pequena cicatriz no canto da boca. Meses depois, outros jovens macacos-prego parecem ter imitado o comportamento de Coringa.

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Os especialistas que revisaram a pesquisa não acreditam que os macacos-prego sequestradores tinham a intenção de machucar os bebês bugios. Barrett traçou um paralelo com crianças que capturam vaga-lumes em potes, mas se esquecem de soltá-los antes que morram. A falta de experiência e cuidado dos jovens macacos-prego pode ter contribuído para o trágico fim dos filhotes de bugios.

Embora esse comportamento específico de sequestro seja inédito, já se observou macacos-prego agindo de forma agressiva com outras espécies, incluindo o assédio a bugios em outros locais. A antropóloga Susan Perry, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, relatou ter testemunhado macacos-prego torturando filhotes de quati antes de comê-los na Costa Rica. Em outra ocasião, ela observou um grupo de macacos-prego jogando um filhote de jupará que haviam capturado como se fosse uma bola.

Possíveis Motivações por Trás dos Sequestros

Os bugios, conhecidos por passarem a maior parte do tempo digerindo folhas e emitindo chamados de sedução graves, tornaram-se alvos dos jovens macacos-prego. Nas imagens coletadas pelos pesquisadores, Coringa aparece carregando um filhote de bugio em sua barriga ou costas, de forma semelhante a uma pessoa carregando um chihuahua em uma bolsa. No entanto, não houve registros de brincadeiras ou catação entre os macacos-prego e os filhotes sequestrados.

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Algumas cenas registradas pelas câmeras remotas são particularmente perturbadoras. Em um vídeo, um grupo de macacos-prego impede que um filhote de bugio escape, enquanto bugios adultos observam a cena, emitindo chamados de angústia. A impossibilidade de seguir os macacos até a cena do crime limitou a capacidade dos pesquisadores de entender completamente a dinâmica dos sequestros.

Apesar das limitações das filmagens de câmeras remotas, os pesquisadores conseguiram confirmar a morte de quatro filhotes de bugios. Acredita-se que os demais também tenham morrido, devido à falta de acesso ao leite materno. A situação levanta questões sobre as motivações por trás desse comportamento incomum e suas possíveis consequências para as populações de macacos e bugios na ilha de Jicarón.

Brendan Barrett e Meg Crofoot, também antropóloga do Instituto Max Planck, foram pioneiros na documentação do uso de ferramentas de pedra por essa população de macacos-prego. Desde 2017, eles acompanham continuamente o grupo, que aprendeu a usar pedras para quebrar moluscos, caracóis e outros alimentos com cascas duras. A inteligência e a capacidade de inovação desses macacos podem estar relacionadas aos sequestros de filhotes de bugios.

Macacos-prego no Panamá e o Tédio como Fator Influente

Os cientistas levantam a hipótese de que a combinação de viver em uma ilha remota e apresentar comportamentos de sequestro pode indicar uma forma de inovação cultural. Embora o roubo e o transporte de bebês bugios pareçam perturbadores, eles também podem representar uma maneira de os macacos-prego explorarem novas experiências e rituais, possivelmente impulsionados pelo tédio.

Os autores do estudo sugerem que a disponibilidade de tempo livre pode ser um fator determinante. Apenas em Jicarón e na vizinha ilha de Coiba é que essa espécie utiliza ferramentas. Nesses locais, os macacos não enfrentam predadores e têm acesso a uma abundância de comida. Essa combinação de fatores pode levar os macacos a buscarem novas atividades e interações, mesmo que isso resulte em comportamentos prejudiciais para outras espécies.

Charlotte Burn, especialista em bem-estar e comportamento animal do Royal Veterinary College em Londres, enfatiza a necessidade de mais evidências para comprovar a hipótese do tédio. Segundo ela, observações adicionais seriam cruciais para confirmar essa teoria. A equipe de pesquisa planeja analisar mais imagens de câmeras para obter pistas sobre os gatilhos desse comportamento. Eles também pretendem investigar o status social de Coringa no grupo de macacos-prego antes de iniciar essa tendência.

Burn destaca a importância de determinar se os sequestros de bugios ajudaram Coringa a ganhar destaque entre seu bando e se a solidão pode tê-lo levado a esse comportamento estranho. A compreensão desses fatores sociais e emocionais pode fornecer insights valiosos sobre as causas dos sequestros. Se Coringa for um indivíduo marginalizado, a imitação de seu comportamento por outros macacos-prego se torna ainda mais intrigante.

“Se ele é um pária, então é mais um mistério por que os outros estão copiando”, disse Burn. “Talvez eles também estejam sentindo falta do que quer que ele estivesse sentindo falta.” A busca por respostas continua, com o objetivo de desvendar os segredos por trás desse comportamento peculiar dos macacos-prego na ilha de Jicarón.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de São Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.