Médico discute a relação entre vício e trauma profundo

Gabor Maté explora a conexão entre vício e traumas em seu novo livro.
Atualizado há 7 horas
Médico discute a relação entre vício e trauma profundo
Vício e trauma se entrelaçam: Gabor Maté revela essa conexão em seu novo livro. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • O médico Gabor Maté apresenta a ideia de que o vício é um sintoma de traumas profundos.
    • Se você está enfrentando dependência, entender essa relação pode ajudar em sua recuperação.
    • A discussão sobre vício e trauma pode influenciar como a sociedade aborda a dependência.
    • Maté propõe que lidar com esses traumas pode ser a chave para a superação do vício.
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O vício é sintoma de trauma profundo, e não uma falha de caráter. É o que defende Gabor Maté, médico especialista em dependência, que explora essa conexão em seu novo livro. Para ele, a busca por prazeres ou alívios momentâneos, seja através de substâncias ou comportamentos, é uma tentativa de lidar com dores emocionais enraizadas. Essa perspectiva revoluciona a forma como entendemos e tratamos a dependência.

A dor por trás do vício: trauma como gatilho

Segundo Gabor Maté, as alterações cerebrais observadas em dependentes químicos, jogadores compulsivos ou viciados em redes sociais não são a causa do problema, mas sim um sintoma. A verdadeira raiz está em traumas profundos e sofrimentos humanos. Em sua experiência, pacientes relatam o uso de substâncias como uma forma de afastar a dor e o sofrimento.

Maté, médico húngaro radicado no Canadá e autor de diversos livros sobre a neurociência do vício, argumenta que entender os mecanismos biológicos do vício pode otimizar o tratamento de dependentes químicos e usuários de drogas em situações de vulnerabilidade. Ele tem trabalhado nessa área há mais de 20 anos em Vancouver, no Canadá.

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O cérebro se torna dependente porque certos circuitos, como os neurotransmissores opioides, estão envolvidos na busca por alívio da dor e prazer. No entanto, ao obter esses opioides de fontes externas, a pessoa se torna dependente porque seu cérebro já foi alterado por suas experiências de vida. A compreensão dessa dinâmica é crucial para abordagens de tratamento mais eficazes.

Acolhimento e tratamento: a experiência de Vancouver

Em 2003, Vancouver implementou abrigos e centros seguros para o uso de substâncias químicas, onde equipes médicas supervisionam os usuários de drogas. Um dos primeiros centros foi o Downtown Eastside, onde Maté atuou como médico. Essa abordagem inovadora visa reduzir os danos associados ao uso de drogas e oferecer suporte aos dependentes.

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Em seu livro “Vício: o Reino dos Fantasmas Famintos”, publicado no Brasil pela editora Sextante, Maté compartilha experiências de usuários na tentativa de ajudá-los a superar seus traumas pessoais e se curarem da adição. Ele enfatiza que a dependência se manifesta em comportamentos que buscam prazer temporário ou alívio da dor, mesmo que tragam consequências negativas. Hoje, o vício em jogos de apostas online ou telas é amplamente debatido.

Uma pessoa que joga em um cassino ou jogos de azar não é viciada em dinheiro. Se ela ganhar uma aposta na noite anterior, no dia seguinte vai apostar tudo e perder o dinheiro. Então, pode ser qualquer comportamento: drogas, cafeína, álcool, morfina, cocaína, pornografia, compras. A lista é longa.

Os estudos sobre o vício evoluíram nas últimas quatro décadas, e hoje existe um vasto conhecimento científico sobre os diversos tipos de comportamentos com alto potencial aditivo, inclusive aqueles relacionados ao uso de telas em crianças menores de quatro anos, por exemplo.

Recompensas e a falta de interação social

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Precisamos constantemente de recompensas para estimular o cérebro e produzir hormônios que nos fazem sentir bem. Quando não conseguimos isso por meio de interações sociais, amor ou outras formas, buscamos através de outros mecanismos, como abuso de telas, drogas, vício em compras. Sempre tem uma base para suprir aquela falta.

O médico ressalta que os problemas de saúde gerados por diferentes tipos de vícios não são os mesmos, sendo o uso de drogas pesadas e opioides, como nos Estados Unidos, particularmente grave. No entanto, entender que esses comportamentos estão relacionados a alterações químicas cerebrais pode auxiliar na busca de novas formas de tratamento. Inclusive, já é possível encontrar ferramentas de IA que podem aumentar a produtividade, se usadas com sabedoria.

O médico também defende o uso de substâncias psicodélicas para o tratamento do vício, e vem estudando isso como forma de terapia para traumas vividos. Essas substâncias têm efeitos também sobre o vício. Existem plantas conhecidas na África, na América Central e na Amazônia que têm efeitos terapêuticos conhecidos sobre a cura do trauma. Maté trabalhou com a raiz de iboga, uma planta nativa do Gabão, que reduz os sintomas de abstinência e recaída em dependentes de heroína.

Alternativas terapêuticas e a visão médica

Intervenções médicas como internações e tratamentos com drogas sintéticas que reduzem os sintomas aditivos são limitadas. Há uma ignorância por parte da classe médica de que o vício é uma questão inerente do indivíduo e pode ser genético. Mas ele não é só genético. Começa com sofrimento, e há muita ignorância nesse sentido.

Se os médicos e os profissionais de saúde olhassem para a ciência, para os estudos de como o cérebro se desenvolve, a medicina poderia mudar, a política social contra as drogas poderia mudar. É importante notar que o INPI irá devolver automaticamente valores de benefícios após fraudes.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de São Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.