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- O cocô de pinguim libera amônia, que se mistura com compostos de enxofre do oceano e forma nuvens na Antártida.
- O estudo visa entender como as atividades biológicas dos pinguins afetam o clima local e global.
- Essas nuvens podem resfriar ou aquecer a região, dependendo de sua localização, influenciando o clima antártico.
- As descobertas ajudam a melhorar os modelos climáticos e a compreender os efeitos humanos no meio ambiente.
Você sabia que o cocô de pinguim pode influenciar o clima na Antártida? Pesquisadores descobriram que o guano — as fezes dos pinguins — libera amônia, que, ao se misturar com compostos de enxofre do oceano, ajuda a formar nuvens. Essas nuvens podem afetar as temperaturas locais, resfriando ou aquecendo a região, dependendo de sua localização sobre o oceano ou o gelo. Vamos entender melhor essa descoberta!
O Impacto Surpreendente do Cocô de Pinguim no Clima Antártico
Um estudo recente publicado na revista Communications Earth & Environment revelou que o cocô de pinguim, também conhecido como guano, tem um papel importante na formação de nuvens na Antártida. Milhões de pinguins se alimentam e se reproduzem no continente, deixando para trás toneladas de guano, que é rico em nitrogênio. Esse nitrogênio se decompõe em amônia, que se mistura com compostos de enxofre do oceano.
Matthew Boyer, principal autor do estudo e doutorando na Universidade de Helsinque, destaca a importância de entender essas conexões inesperadas no nosso planeta. A equipe de pesquisa mediu a concentração de amônia perto de uma colônia de 60 mil pinguins-de-adélia na base Marambio, na península Antártica, em janeiro de 2023. Eles descobriram que o guano é uma fonte significativa de amônia na costa, superando até mesmo a amônia proveniente do oceano Antártico. Quando o vento soprava da colônia, os instrumentos da equipe registraram concentrações de amônia mil vezes maiores que o normal.
Mesmo após os pinguins deixarem a área no final de fevereiro, a concentração de amônia continuava cem vezes acima do nível normal. Esse aumento de amônia coincidiu com um período de névoa, que a equipe acredita estar diretamente ligado à alta concentração de partículas de aerossol. A névoa levava cerca de 3 a 4 horas para se formar.
Os produtos químicos presentes no guano aceleram a formação de nuvens. Compostos de enxofre do fitoplâncton oceânico se combinam com amônia e dimetilamina do guano, acelerando a formação de partículas de nuvem em até 10 mil vezes.
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Nuvens Formadas por Cocô de Pinguim e seus Efeitos Climáticos
O efeito dessas nuvens no clima ainda não é totalmente claro. As nuvens têm a capacidade de absorver radiação tanto do sol quanto do planeta. A maioria das nuvens na Terra tende a resfriar o ambiente, refletindo a luz solar de volta para o espaço. No entanto, Boyer explica que o gelo é altamente reflexivo e também emite radiação. Se uma nuvem for menos reflexiva que o gelo abaixo, ela pode reter calor e contribuir para o aquecimento da superfície.
Estudos anteriores, com modelos computacionais, sugerem que o efeito final pode ser o resfriamento da superfície. Um estudo de 2016 examinou nuvens formadas a partir de guano de aves marinhas no Ártico e encontrou um efeito de resfriamento na região, excedendo 1 watt por metro quadrado perto de grandes colônias de aves marinhas. Os modelos mostraram que essas nuvens continham mais gotículas, porém menores, que refletiam mais luz solar de volta ao espaço.
Boyer pretende continuar as observações para confirmar esses efeitos. Segundo ele, modelos são uma ferramenta útil para estimar cenários, mas é essencial verificar essas estimativas com medições reais. Espécies de pinguins maiores ou colônias maiores, com centenas de milhares de indivíduos, poderiam gerar nuvens ainda maiores. Nuvens maiores tendem a ter mais gotículas, porém menores, e refletem mais luz solar, além de produzirem menos precipitação.
Não está claro como essas emissões de guano podem mudar no futuro, especialmente com as alterações nas populações de pinguins. De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, cerca de uma dúzia de populações de pinguins estão diminuindo, mas os pinguins-de-adélia, foco deste estudo, são uma das poucas espécies que estão vendo um aumento em seus números.
A Importância de Entender os Gases do Guano
Ken Carslaw, cientista atmosférico da Universidade de Leeds, que não participou da pesquisa, afirma que as descobertas não são totalmente surpreendentes, já que experimentos de laboratório já mostraram que os gases emitidos pelo guano ajudam a formar partículas na atmosfera. Ele considera o estudo uma confirmação valiosa de que os resultados observados em laboratório podem explicar o que acontece na atmosfera real.
Carslaw acrescenta que essas partículas de aerossol ou nuvens formadas por cocô de pinguim provavelmente não terão um grande impacto nas mudanças climáticas, mesmo que mudem significativamente. No entanto, é crucial entender esses gases de guano, pois eles fazem parte da atmosfera natural. “É vital entender que esses ambientes naturais são a linha de base a partir da qual quantificamos e entendemos os efeitos humanos no clima”, explica Carslaw. “Essas observações são mais uma peça do quebra-cabeça que ajudará a melhorar como as nuvens são representadas nos modelos climáticos.”
Enquanto os cientistas têm observado como as mudanças climáticas causadas pelo homem afetam o Ártico, as tendências na Antártida têm sido mais variadas até recentemente. Nos últimos sete anos, o continente registrou três verões recordes de baixo gelo marinho, o que alguns cientistas interpretam como os primeiros sinais de que as mudanças climáticas causadas pelo homem estão se sobrepondo aos processos naturais na Antártida.
As mudanças locais na Antártida e no Ártico têm um impacto global no clima. O derretimento de ambas as camadas de gelo influencia o aumento do nível do mar em todo o mundo, que pode subir um metro até 2100. No entanto, essa distribuição não é uniforme, com algumas áreas já sofrendo os efeitos.
Conexões Climáticas Globais e o Papel dos Pinguins
“Os oceanos e os pinguins estão influenciando a atmosfera e realmente influenciando o clima local na Antártida”, afirma Boyer. Ele ressalta que as mudanças locais na Antártida terão um impacto no clima global. Essa descoberta destaca a complexa interação entre os ecossistemas e o clima do nosso planeta, mostrando como até mesmo as atividades biológicas dos animais podem ter um efeito considerável no sistema climático global.
Para aqueles que desejam se aprofundar ainda mais no mundo da ciência e descobrir outras curiosidades, vale a pena conferir cientistas que decifram sons de golfinhos, uma pesquisa que demonstra como a comunicação animal pode revelar segredos sobre a vida marinha e o meio ambiente.
Entender esses processos naturais é fundamental para melhorar as previsões climáticas e desenvolver estratégias de mitigação mais eficazes. A pesquisa de Boyer e sua equipe lança luz sobre um aspecto pouco conhecido do sistema climático da Antártida, demonstrando que as atividades dos pinguins podem ter um impacto significativo no clima global.
Além disso, para quem se interessa por outras áreas da ciência, vale a pena conferir como a NASA revela como árvores próximas a vulcões podem alertar sobre erupções, mostrando a importância de monitorar a natureza para prever eventos catastróficos.
Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.
Via Folha de S.Paulo