Einstein no Brasil: A Visita Que Mudou a Ciência

Reveja como a visita de Einstein ao Brasil impactou a ciência e cultura no século passado.
Atualizado em 04/05/2025 às 23:12
Einstein no Brasil: A Visita Que Mudou a Ciência
Einstein no Brasil: um marco que uniu ciência e cultura no século passado. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • Há 100 anos, Einstein visitou o Brasil, misturando admiração e condescendência.
    • A viagem teve importante repercussão na ciência brasileira e internacional.
    • A visita foi uma ocasião de prestígio para as comunidades judaicas na América do Sul.
    • A experiência de Einstein no país revelou suas complexas visões sobre a cultura latina.
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Há 100 anos, o renomado físico Albert Einstein visitou o Brasil, deixando um misto de admiração e condescendência. Sua passagem pelo Rio de Janeiro, Argentina e Uruguai revela não apenas um cientista, mas também um homem com visões complexas sobre o mundo. Descubra os detalhes dessa viagem histórica e o impacto, tanto para Einstein quanto para o desenvolvimento científico na América do Sul.

A Chegada de Einstein ao Brasil

Em 21 de março de 1925, o navio Cap Polonio atracou no Rio de Janeiro sob um céu nublado. O rabino Isaiah Raffalovich, acompanhado de médicos e engenheiros, aguardava ansiosamente a chegada de Albert Einstein, então com 46 anos. Esse encontro marcou o início de uma turnê de quase 50 dias do físico pela América do Sul, um século atrás. As anotações de Einstein sobre essa experiência foram publicadas no livro “Os Diários de Viagem de Albert Einstein – América do Sul 1925”.

Após desembarcar, Einstein fez um breve tour pelo Jardim Botânico e desfrutou de um almoço no Copacabana Palace com o jornalista Assis Chateaubriand, cujo jornal “O Jornal” cobriu amplamente a visita. A beleza do Jardim Botânico deixou uma marca em Einstein, que escreveu: “supera os sonhos de ‘As Mil e Uma Noites’”. As paisagens, as pessoas e as ruas do Rio causaram uma excelente primeira impressão no cientista, que descreveu a experiência como “maravilhosa”.

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A visita ao Rio, contudo, foi apenas uma breve parada. Em seguida, Einstein viajou para Buenos Aires, na Argentina, onde permaneceu por cerca de um mês, antes de seguir para Montevidéu, no Uruguai. No dia 5 de maio, os brasileiros tiveram a chance de receber Einstein para uma estadia mais longa.

O Papel das Comunidades Judaicas e a Agenda de Rockstar

As comunidades judaicas da América do Sul desempenharam um papel crucial para que a visita de Einstein ao continente se concretizasse. Foram elas que estenderam os primeiros convites ao físico. “Ele era o judeu mais famoso do mundo naquela época”, afirma Ze’ev Rosenkranz, editor do Projecto Einstein Papers no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).

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Um dos objetivos por trás dos convites era elevar o prestígio dessas comunidades. “O rabino Raffalovich queria mostrar que os judeus não eram só comerciantes”, explica Alfredo Tolmasquim, autor do livro “Einstein: O Viajante da Relatividade na América do Sul”. Em 1925, a maioria dos judeus no Brasil eram imigrantes que trabalhavam no comércio. “Era uma forma de mostrar que havia judeus intelectuais.”

Apesar da insistência, principalmente dos argentinos, Einstein só aceitou o convite com a condição de que as visitas tivessem fins acadêmicos. No entanto, sua agenda no Brasil, e em toda a viagem, se assemelhava à de uma estrela do rock. Além das palestras lotadas, Einstein conversou com jornalistas, discursou na primeira rádio do Brasil, a Rádio Sociedade, e até experimentou vatapá com pimenta, um momento que foi noticiado em um jornal brasileiro.

Além de se encontrar com o então presidente Arthur Bernardes, Einstein visitou o Pão de Açúcar (de bondinho) e o Corcovado, ainda sem o Cristo Redentor. A passagem de Einstein pelo Brasil foi intensa e diversificada.

O Olhar Condescendente e as Contradições de Einstein

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Apesar de seu encantamento com a natureza brasileira, Einstein, como um homem europeu de sua época, nem sempre teceu comentários elogiosos sobre os sul-americanos. Em uma passagem polêmica de seus diários, ele escreveu: “Aqui sou uma espécie de elefante branco para eles, e [eles são macacos para mim]”.

Essa anotação refere-se a uma palestra que o físico ministrou no Clube de Engenharia em 6 de maio. Em outra anotação, ele se refere ao diretor da Faculdade de Medicina, Aloísio de Castro, como “legítimo macaco”. Para Tolmasquim, o termo, nos anos 1920, não tinha a mesma conotação negativa de hoje. “Tinha relação com uma atitude boba, tola, de macaquice”, argumenta.

Naquela época, havia um forte apoio a políticas de “embranquecimento” da população brasileira, e muitos europeus acreditavam que o clima quente e úmido dos trópicos era prejudicial ao intelecto. No livro que reúne os diários de viagem do físico, Rosenkranz observa que Einstein tinha uma visão condescendente dos brasileiros, chegando perto de desumanizá-los em alguns momentos. “Ele tinha preconceitos com povos latinos”, afirma o historiador. “Mas ele também mudou de opinião ao longo do tempo e defendeu direitos civis aos negros nos EUA mais tarde. Ele era um pacifista e simpático às minorias.”

A Ciência Brasileira e o Eclipse de Sobral

Einstein também visitou locais cruciais para o desenvolvimento da ciência no Brasil, como o Observatório Nacional e o Museu Nacional. Naquela época, o Brasil possuía apenas uma universidade, a Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920. Essa instituição era uma junção da Escola Politécnica, da Faculdade de Medicina e da Faculdade de Direito, nenhuma das quais eram focadas em pesquisa. Os únicos acadêmicos que demonstravam interesse nas teorias de Einstein eram matemáticos e engenheiros autodidatas.

O Brasil, no entanto, desempenhou um papel significativo na popularização de Einstein. Um eclipse que ocorreu em Sobral, Ceará, em 1919, foi um marco para a Teoria da Relatividade. A teoria previa que a luz das estrelas seria desviada pela gravidade do Sol, e a observação do eclipse permitiu medir esse desvio.

Uma expedição de pesquisadores estrangeiros e brasileiros, incluindo Henrique Morize, diretor do Observatório Nacional, foi organizada para observar o fenômeno. “A questão que surgiu em minha mente foi respondida pelos céus ensolarados do Brasil”, escreveu Einstein, que acompanhou os resultados à distância.

No início do século 20, o Brasil tinha uma forte tradição positivista, diz Tolmasquim. “A ideia era de que a ciência newtoniana era uma ciência acabada”, afirma. “O pensamento predominante até então era de que não se devia gastar muito tempo investindo em pesquisa, porque o que havia para ser descoberto, já tinha sido, o importante era aplicar os conhecimentos.”

No campo científico, surgiam visões de uma ciência mais pura, não aplicada. Alguns professores e pesquisadores traziam novas teorias da Europa, como a relatividade de Einstein e a radioatividade. A repercussão da Teoria da Relatividade na imprensa, no entanto, causou confusão. “Einstein nunca disse que tudo é relativo, ele fala sobre a relatividade do espaço e do tempo em relação a um observador, mas alguns jornalistas interpretaram a teoria dessa forma errônea, confundiram relatividade e relativismo, e houve certo esvaziamento da teoria”, opina Tolmasquim.

Para entender melhor esse conceito, pode ser interessante solucionar o erro de Conteúdo indisponível, que muitas vezes impede o acesso a informações relevantes na internet. “Mas naquela época o mundo estava em transformação, então não acho que a confusão aconteceu por acaso, o mundo estava em busca de uma maior abstração e maior relatividade nos conceitos.”

Legado da Visita e Impacto na Ciência Nacional

A viagem de Einstein à América do Sul não teve efeitos notáveis sobre seus pensamentos científicos nem um grande impacto imediato para a ciência nacional. “Mas foi uma viagem importante para dar visibilidade a novos pensamentos da época de valorização da pesquisa científica e construção da ciência de uma forma mais sistemática no país”, avalia Tolmasquim.

Apesar de suas complexidades e contradições, a visita de Einstein ao Brasil há 100 anos permanece como um evento marcante, um ponto de encontro entre um gênio da ciência e um país em busca de seu próprio caminho no cenário mundial. Essa história nos lembra da importância de revisitar o passado para entender o presente e inspirar o futuro da ciência e da cultura no Brasil.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificiado, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de São Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.