Tecnologia fotográfica: Melhores selfies = melhores oportunidades no amor

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22/06/2018 às 07:40 | Atualizado há 6 anos
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Os smartphones estão mudando radicalmente suas especificações devido a um boom de aplicativos de namoro online e redes sociais. Sem ser nada estranho, a principal mudança está nas câmeras frontais.

Câmeras frontais vieram no verão de 2003 em um telefone da Sony, e da maneira mais simples: em uma câmera VGA de 0,3 MP, com fotos em resolução de 176×144 pixels. Por razões óbvias, o hashtag #selfie não era replicado mais de cem vezes por dia, até que o número explodiu em 2014, devido ao advento de melhores tecnológicas que permitem aos usuários se ver quando eles posam para a foto.

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Do ponto de vista psicológico, a cultura da selfie tornou-se um dos pilares que sustentam a fotografia moderna, dentro e fora das redes sociais. Isso ocorre porque tomá-la, editá-la, combiná-la em uma colagem, ou simplesmente fazer mudança de filtros, são alguns desses pequenos prazeres diários e talvez mais íntimos para a maioria das pessoas, uma vez que além do narcisismo primitivo, coabita uma função psicológica: obter uma perspectiva sobre a própria identidade, como apontado por pesquisadores da Universidade de Brasília.

Esta pequena mudança tecnológica tem levado a uma mudança cultural muito maior, porque no contexto das redes sociais e aplicativos de namoro online, com uma boa selfie, cuidando da perspectiva e iluminação, qualquer um pode ser mais magro, mais elegante, mais alto, mais baixo ou simplesmente mais atraente, dentro do que figuras públicas como Kim Kardashian, tornaram um modo de vida. Esses avanços na tecnologia fotográfica dos smartphones e a influência das selfies em aplicativos como Instagram e redes de encontros sociais, estão tendo um impacto mais importante na sociedade do que muitos pensariam: abertura multicultural e estabilidade dentro dos relacionamentos.

O amor se encontra nos smartphones

Nestes tempos em que, segundo alguns estudos, e de acordo a cultura popular brasileira, todo mundo tem um smartphone, os casais se encontram online, e não através de amigos. Atualmente, mais de um terço dos casamentos são celebrados graças ao fato do casal ter se encontrado através de redes sociais de namoro online.

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Por mais de 50 anos pesquisadores científicos do MIT, nos Estados Unidos, da Universidade de Essex, no Reino Unido, e da Universidade de Viena, na Áustria, realizaram estudos sociais que analisam como casais se encontraram, e todos eles concordam que essas redes sociais de namoro marcaram um ponto de virada graças às facilidades que eles implicam. Tradicionalmente, as redes sociais “reais” ou físicas funcionavam como um mecanismo de reunião. Alguém conhece alguma outra pessoa através de amigos de um amigo, por exemplo, e isso fazia com que casais se formassem através de amizades mútuas, mas também no trabalho, durante os estudos, ou através de contatos familiares.

Os serviços de namoro online mudaram essa dinâmica: eles são a segunda razão para um casal heterossexual se conhecer (e parece que em breve eles vão superar a maneira tradicional de conhecer seu parceiro: através de um amigo ou amigo de um amigo), mas é que essa dinâmica é muito mais radical nos casais homossexuais, onde os serviços de encontros online são a forma muito mais frequente de formar esses casais.

Os smartphones funcionam como ferramentas de abertura cultural

Como dizem esses pesquisadores, “as pessoas online tendem a ser completamente estranhas umas às outras”. Isso é especialmente perceptível no número de casamentos inter-raciais e interculturais, que tem crescido gradualmente nas últimas décadas, más isso tem sido impulsionado desde o surgimento de redes sociais e apps de namoro. Namorar no Rio de Janeiro com o Badoo, para exemplificar o caso de uma cidade tão grande e multicultural, tornou-se um fato muito mais recorrente do que há alguns anos. Numa cidade com mais de 6 milhões de habitantes, a tarefa de encontrar a meia laranja era tradicionalmente deixada para os critérios da família e dos amigos.

Essa abertura e facilidade têm um efeito claro na sociedade, porque as redes sociais e os serviços de namoro online mudaram a diversidade racial, e até hoje, entender a evolução do casamento inter-racial é um grande problema, já que esses tipos de casamentos são tradicionalmente considerados como uma medida de distanciamento social em nossas sociedades. Usando simulações aleatórias e várias teorias, esses pesquisadores descobriram que aqueles serviços aumentam esse tipo de casamentos, não apenas porque uma pessoa de uma raça é atraída para outra de uma raça diferente dentro daquele serviço, mas porque uma vez que esse encontro ocorre, os amigos de cada um dos componentes do casal também são mais propensos a se conhecerem.

Esses casamentos inter-raciais estão se tornando mais comuns, mas, além disso, os casamentos criados através de encontros online tendem a ser mais fortes e estáveis, pois eles se conectam de forma sólida a redes e grupos de amigos que podem parecer muito diferentes, mas se tornam um conjunto sólido e estável, graças à união de um casal.

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Fonte: Pixabay

O amor e a tecnologia

Desde os tempos antigos de conhecer ao cônjuge minutos antes de um casamento arranjado até selecionar com o smartphone dezenas de combinações possíveis na atualidade, os dados (e bom senso) dizem que a “procura pelo amor” mudou. Quase um em cada quarto dos casais norte-americanos se encontra online na atualidade, e isso significa uma mudança no futuro da procura pelo amor.

Muitos especialistas acreditam que é possível que isso tenha um impacto sobre como esses novos casais são num nível psicológico, devido a que a internet tornou a busca por um par um processo bastante competitivo. Neste caso, a metáfora da meia laranja é muito apropriada. Não porque haja por aí uma pessoa que nos complete perfeitamente, mas porque, depois das grandes histórias de amor, o que estamos procurando é uma pessoa que seja como nós. Pelo menos isso é o que os dados dizem.

Todos os estudos concordam com o que chamam de ‘correspondência seletiva’, a tendência de parear com outros indivíduos que se assemelham a nós em classe social, nível educacional, raça, personalidade ou atratividade. Nós não procuramos por clones, mas procuramos por pares que sejam suficientemente semelhantes a nós para entender uns aos outros, e o suficientemente diferentes para não competir e cair na monotonia.

Encontrar pessoas nem muito diferentes nem muito semelhantes não é fácil. Acima de tudo, porque ainda não somos capazes de ler a mente das pessoas. É por isso que, quando procuramos um parceiro, somos forçados a usar próprias regras e variáveis que, embora não tenham relação direta com a satisfação futura do relacionamento, podem nos ajudar a estimar isso.

A ‘primeira impressão’ pode ser uma boa correspondência com aquelas variáveis (não só para o físico em si, mas para o estilo das roupas, o modo de falar ou outros comportamentos mais óbvios), mas a medida que vamos conhecendo a pessoa, temos acesso a melhores indicadores para saber se “somos compatíveis” ou não. Por isso, casais formados por pessoas que se conhecem há muito tempo tendem a parecer mais estranhas, porque são baseadas em variáveis menos óbvias.

Em busca do amor

Na Universidade do Texas, em Austin, eles fizeram um experimento curioso: no primeiro dia de uma disciplina, pediram aos alunos que “avaliassem” o nível de atratividade de seus colegas. Nessas avaliações, os alunos coincidiam em identificar as mesmas pessoas que as mais atraentes.

Três meses depois, diante da mesma pergunta, as pontuações mudaram radicalmente. Esses três meses serviram para os alunos se relacionarem entre si e mudarem os padrões que usaram para estabelecer essa “desejabilidade”. Além disso, a coincidência anterior sobre a qual as pessoas eram mais atraentes havia desaparecido. Depois da idéia criada pela “selfie” da primeira impressão, a interação social com as pessoas tinha mudado a atração completamente. À medida que conhecemos as pessoas, encontramos padrões melhores para saber do que gostamos e do que não gostamos. Ou seja, a coisa mais normal é que não temos ideia do que é ‘nosso tipo’ até encontrá-lo.

De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Stanford em 2012, a forma como os casais românticos se conheceram mudou drasticamente desde o surgimento da internet, para se concentrar em um contexto online. Além do que isso foi diretamente impulsionado pelas melhorias na tecnologia fotográfica.

Os tempos em que conceituamos a internet como algo fora da realidade foram postos de lado há muito tempo, já que o Brasil é o quarto país com mais usuários de smartphones do mundo (segundo Newzoo, maio de 2018), a internet é a nossa realidade, e ainda é cedo para descobrir que tipo de relações a rede de redes está prestes a trazer, em um mundo que tem cada vez mais abertura digital, tecnológica e cultural, deixando para trás as velhas barreiras, e os métodos tradicionais de relacionamento e interação, completamente de lado.

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Fonte: Pixabay

Um fato muito importante a destacar, é que no Brasil, a tendência para conhecer novas pessoas é fazê-lo dentro das redes sociais, pois seus formatos permitem às mesmas se socializar e se conhecer mais detalhadamente, deixando de lado gostos ou características superficiais. Isso permite que as pessoas se conheçam deixando de lado o “superficial” e, em grande medida, essa ideologia está se espalhando pelo mundo inteiro.

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André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.