Macacos-prego adolescentes sequestram filhotes de bugios por tédio em ilha no Panamá

Estudo revela comportamento inusitado de macacos-prego adolescentes que sequestram filhotes de bugios por falta de predadores na ilha.
Atualizado em 21/05/2025 às 08:55
Macacos-prego adolescentes sequestram filhotes de bugios por tédio em ilha no Panamá
Macacos-prego sequestram filhotes de bugios em ilha sem predadores, surpreendendo pesquisadores. (Imagem/Reprodução: Super)
Resumo da notícia
    • Macacos-prego adolescentes na Ilha Jicarón sequestram filhotes de bugios, comportamento nunca antes observado.
    • O estudo visa entender as motivações por trás desse comportamento inusitado em primatas.
    • O impacto pode afetar a população de bugios na ilha, com baixa taxa de sobrevivência dos filhotes sequestrados.
    • O comportamento pode refletir como o tédio e a falta de predadores influenciam a inovação em animais.
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Os macacos prego adolescentes da Ilha Jicarón, no Panamá, estão chamando a atenção dos pesquisadores com um comportamento inusitado: o sequestro de filhotes de bugios. Aparentemente, a falta de predadores e a abundância de comida na ilha podem estar levando esses jovens primatas a buscar novas formas de entretenimento, mesmo que isso signifique colocar em risco a vida de outros animais.

O “reality show” dos macacos

Desde 2017, pesquisadores instalaram câmeras na Ilha Jicarón, um local desabitado por humanos no sul do Panamá, para monitorar a vida dos macacos-prego. O que era para ser um estudo sobre o comportamento desses primatas acabou se transformando em um intrigante “reality show” animal.

Os vídeos revelaram que os macacos-prego machos estão sequestrando filhotes de bugios, também conhecidos como macacos-uivadores, por motivos ainda desconhecidos. Entre 2022 e 2023, pelo menos 11 filhotes foram vítimas dessa prática.

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Um dos líderes desse “esquema” é um jovem macaco-prego apelidado de Joker, em referência ao vilão do Batman, devido a uma cicatriz em sua boca e, aparentemente, por seus atos questionáveis. Em janeiro de 2022, Joker foi flagrado carregando um filhote de bugio nas costas.

Inicialmente, os pesquisadores pensaram que poderia se tratar de uma adoção, já que um caso semelhante já havia sido registrado no Brasil, onde uma macaca-prego fêmea adotou e amamentou um filhote órfão de sagui. No entanto, essa hipótese foi descartada, pois Joker é macho e não demonstrava nenhum cuidado com o filhote sequestrado.

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Além disso, as gravações revelaram os chamados desesperados dos bugios adultos procurando pelo filhote e do próprio filhote chamando por sua mãe. Os pesquisadores acreditam que o pequeno bugio provavelmente morreu de fome sem os cuidados necessários.

O efeito “Coringa” e a falta de propósitos

Nos meses seguintes, Joker continuou com seu comportamento e foi visto com outros três filhotes de bugios em diferentes ocasiões. Logo, outros quatro macacos-prego machos também foram flagrados carregando filhotes de bugio vivos. No total, 11 filhotes foram levados de suas mães pelo grupo, com uma taxa de sobrevivência aparentemente nula.

Zoë Goldsborough, pesquisadora do estudo, explicou que os macacos-prego não maltratam os filhotes, mas não conseguem fornecer o leite necessário para sua sobrevivência. As descobertas foram publicadas na revista Current Biology. As câmeras registraram cinco machos diferentes carregando os 11 filhotes de bugios ao longo de 15 meses.

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O que mais surpreendeu os pesquisadores foi a falta de interação entre os macacos-prego e os filhotes de bugio. Eles carregavam os filhotes por dias, sem brincar, sem agressão e com pouco interesse. Para Patrícia Izar, bióloga da Universidade de São Paulo, essa observação é intrigante, pois é raro ver a disseminação social de comportamentos sem benefícios aparentes em animais não humanos.

Normalmente, os macacos-prego costumam “roubar” filhotes dentro da própria espécie, como uma brincadeira. Os machos comemoram quando conseguem pegar um bebê de suas mães, mas devolvem o filhote quando ele começa a chorar e “estraga” a diversão. Nesses casos, as mães geralmente estão por perto para resgatar seus filhotes.

Além disso, os pesquisadores acreditam que os bebês que desenvolvem um relacionamento próximo com os “sequestradores” podem se tornar aliados no futuro, ajudando-os a se aventurar em outros grupos para acasalar, em uma espécie de síndrome de Estocolmo.

Tédio e inovação

Goldsborough ressalta que o roubo entre espécies nunca havia sido observado antes, nem nesta ilha nem em outras populações de macacos-prego. Segundo ela, os macacos parecem carregar os filhotes como um “acessório”, demonstrando mais interesse no ato de carregar do que nos próprios filhotes. A pesquisadora também levanta a hipótese de que os outros macacos podem ter simplesmente copiado a “tendência” lançada por Joker.

Outra explicação possível para esse comportamento é o tédio. No continente, os macacos-prego precisam se preocupar com predadores, mas na Ilha Jicarón, com poucas ameaças e abundância de comida, os jovens primatas podem estar apenas entediados.

Goldsborough explica que as condições da ilha, como a ausência de predadores terrestres e o maior tempo livre, podem estar favorecendo a inovação e a disseminação de comportamentos. Ela ressalta que animais que vivem em ilhas sem predadores ou em zoológicos, onde estão seguros e bem alimentados, costumam ser mais inovadores e habilidosos no uso de ferramentas.

Brendan Barrett, outro autor da pesquisa, observa que animais entediados podem ser imprevisíveis e até irritantes. Ele já viu macacos-prego limpando porcos-espinhos e dando tapinhas em vacas. “Eles mexem com tudo. Estão constantemente testando e interagindo com o mundo”, afirma.

Os pesquisadores esperam que esse comportamento desapareça em breve ou que os bugios aprendam a proteger melhor seus filhotes. Eles também destacam que as descobertas da pesquisa revelam muito sobre o comportamento humano. “É como um espelho que reflete sobre nós mesmos, aparentemente fazendo coisas para outras espécies que podem prejudicá-las e parecem atrozes, sem nenhum propósito real”, conclui Barrett.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Superinteressante

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.