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- Macacos-prego foram observados sequestrando filhotes de bugios em uma ilha no Panamá, resultando na morte dos bebês.
- O estudo revela um comportamento inédito e perturbador, iniciado por um macaco chamado Coringa e imitado por outros.
- Essa descoberta pode impactar o entendimento sobre o comportamento animal e a interação entre espécies.
- Os pesquisadores buscam entender as motivações por trás desse comportamento, como tédio ou inovação cultural.
Em uma ilha no Panamá, pesquisadores registraram um comportamento surpreendente: macacos prego sequestrando filhotes de bugios. Jovens machos roubam os bebês de outra espécie e os carregam por vários dias, resultando na morte dos filhotes por desidratação ou fome. O estudo, publicado na Current Biology, revelou que essa prática parece ter começado com um macaco apelidado de Coringa, e outros jovens imitaram seu comportamento. Entenda os detalhes dessa descoberta.
O Início da Observação
A história inusitada começou quando a ecologista Zoë Goldsborough, do Instituto Max Planck de Comportamento Animal na Alemanha, analisava imagens de câmeras remotas instaladas na ilha de Jicarón, no Panamá. Em 2022, ela se deparou com uma cena que a deixou intrigada: um filhote de bugio agarrado às costas de um macaco-prego-de-cara-branca. Essa interação entre as duas espécies não era comum, já que os macacos prego e os bugios geralmente não convivem de forma amigável.
A partir dessa imagem, Goldsborough e seus colegas começaram a investigar o que estava acontecendo. A análise aprofundada das imagens revelou um padrão perturbador: jovens macacos prego machos estavam sequestrando filhotes de bugios e os carregando por dias. O resultado trágico era sempre o mesmo: os filhotes morriam de desidratação ou fome, incapazes de sobreviver sem os cuidados de suas mães.
O antropólogo evolucionista Brendan Barrett, orientador de doutorado de Goldsborough, descreveu a experiência de assistir às imagens como um “filme de terror que estava sendo escrito”. A equipe, que geralmente se dedica ao estudo do uso de ferramentas de pedra pelos macacos prego, viu-se diante de um comportamento totalmente novo e inesperado.
O Comportamento dos Macacos Prego
Entre janeiro de 2022 e julho de 2023, os pesquisadores documentaram 11 casos de filhotes de bugios sendo carregados por cinco jovens macacos prego machos diferentes. Aparentemente, tudo começou com um indivíduo chamado Coringa, apelidado assim por causa de uma pequena cicatriz no canto da boca. Coringa parece ter sido o pioneiro nessa prática, e outros jovens macacos começaram a imitá-lo meses depois.
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Apesar da natureza cruel do sequestro, os especialistas não acreditam que os macacos prego tenham a intenção de machucar os filhotes. Barrett comparou o comportamento deles ao de crianças que capturam vaga-lumes em potes, sem perceber que estão causando a morte dos pequenos insetos. É como se os macacos não tivessem a noção das consequências de seus atos.
Esse tipo de comportamento agressivo em relação a outras espécies não é totalmente inédito entre os macacos prego. Já foi observado que eles assediam bugios em outros locais e até torturam filhotes de quatis antes de comê-los, como relatou a antropóloga Susan Perry, da Universidade da Califórnia, Los Angeles.
Possíveis Motivações
Os cientistas têm algumas teorias sobre o que poderia estar por trás desse comportamento de sequestro. Uma delas é que os macacos prego estão simplesmente entediados. A ilha de Jicarón, onde eles vivem, é um ambiente relativamente seguro e abundante em comida, sem predadores naturais para ameaçá-los. Essa combinação de fatores pode levar os macacos a buscar novas formas de entretenimento, mesmo que isso signifique prejudicar outras espécies.
Outra possibilidade é que o sequestro de filhotes de bugios seja uma forma de inovação cultural. Os macacos prego de Jicarón são conhecidos por usar ferramentas de pedra para quebrar moluscos e caracóis, uma habilidade que não é observada em outras populações da espécie. O comportamento de roubar e carregar bebês de outras espécies pode ser mais um exemplo de como esses macacos estão constantemente inventando novas práticas e rituais.
Para entender melhor as motivações por trás desse comportamento, os pesquisadores planejam analisar mais imagens de câmeras e investigar o status social de Coringa antes de ele iniciar a onda de sequestros. Será que ele era um pária no grupo? Será que o sequestro de bugios o ajudou a ganhar proeminência? Essas são algumas das perguntas que os cientistas esperam responder.
Charlotte Burn, especialista em bem-estar e comportamento animal do Royal Veterinary College em Londres, ressalta a importância de determinar se os sequestros de bugios ajudaram Coringa a subir na hierarquia social do grupo. Se ele for um indivíduo marginalizado, o comportamento de imitação dos outros macacos se torna ainda mais intrigante.
A descoberta dos sequestros de filhotes de bugios por macacos prego na ilha de Jicarón é um lembrete de que o mundo natural está cheio de surpresas. Mesmo em ambientes aparentemente tranquilos, como uma ilha tropical, comportamentos inesperados e até perturbadores podem surgir. Resta aos cientistas desvendar os mistérios por trás desses atos e entender como eles se encaixam no complexo quadro da vida selvagem.
Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.
Via Folha de São Paulo