O estudante de medicina Faissal Nemer Hajar, de 21 anos, teve a ideia de criar um site para mapear casos de covid-19 enquanto assistia uma coletiva de imprensa onde o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta falava sobre o uso de tecnologias para identificar infecções pelo novo coronavírus. Depois de dois meses de desenvolvimento, a ideia se transformou na plataforma Juntos Contra o Covid, um site colaborativo que mapeia casos do coronavírus no Brasil e permite que uma pessoa saiba qual é o risco de infecção na região onde ela mora.
Como funciona
Através de dados fornecidos pelos próprios usuários, o site avalia uma série de dados que incluem sexo, idade e o endereço onde vivem; bem como se a pessoa foi vacinada contra grupe, se foi testada para o covid-19 e se teve os sintomas da doença. Além desses dados, o questionário também pede problemas de saúdes e se a pessoa teve contato com pessoas que viajaram para algum local onde há a chamada transmissão comunitária, ou seja, onde o vírus circula livremente. A única informação pessoal fornecida é um endereço de email, que é mantido em sigilo.
Todos esses dados são levados em consideração por um algoritmo que identifica em qual das três categorias de risco a pessoa se encaixa e a identifica no mapa do site de acordo com isso.
Os casos de risco baixo são identificados por pontos azuis. São pessoas que não têm sintomas de infecção respiratória nem histórico de contato com o vírus.
Os pontos amarelos são de risco médio: a pessoa tem sintomas, mas não viajou para onde há transmissão comunitária ou não tem certeza se esteve em contato com casos suspeitos ou confirmados.
Os casos de alto risco, em vermelho, são de quem testou positivo para covid-19 ou tem sintomas e entrou em contato com casos suspeitos ou confirmados ou viajou para onde há a transmissão comunitária.
Quem entra no site pode checar no mapa quantos pontos azuis, amarelos e vermelhos existem em uma região e entender, assim, até que ponto aquela é ou não uma área de risco de covid-19.
“Queremos conscientizar as pessoas sobre a presença do coronavírus onde elas moram. Mas a gente ressalta que, mesmo onde só há pontos azuis, não significa que o vírus não esteja presente, porque até 30% das infecções podem ser assintomáticas”, diz Faissal.
Dados poderão ser usados para pesquisas futuras
Até o momento são quase 170 mil pessoas que já enviaram seus dados. Com esses dados, eles querem ajudar a entender o que aconteceu agora e, caso seja possível, em outras pandemias no futuro”, afirma o estudante. Toda essa informação ficará disponível publicamente para pesquisadores.
A física Caroline Franco, colaboradora do Observatório Covid-19 BR, que reúne pesquisadores para fazer análises sobre a pandemia, diz que esse tipo de iniciativa é importante, porque existem poucas bases de dados públicas sobre o novo coronavírus no país e a comunidade científica tem enfrentado problemas para conseguir informações com governos.
“Pedimos esses dados, mas algumas vezes eles demoram para chegar, em outras não recebemos resposta. E, quando a base de dados vem, pode já estar desatualizada, então, é muito interessante esse esforço de mapear os casos”, diz a pesquisadora.
Mas nem tudo é tão fácil. Para conseguir acessar, os usuário precisam de internet e dispositivos para acessar. No Brasil, ainda a ainda grande parte da população que tem dificuldade de acesso a essas tecnologias, fazendo com que a participação fique mais concentrada nos bairros mais ricos e entre as classes mais altas — e com que a amostra de pessoas ali não seja tão abrangente, o que pode gerar um viés socioeconômico nos resultados de futuros estudos.
“É uma proposta que tem bastante potencial, mas eles precisam encontrar uma forma de expandir a base de participantes”, avalia Franco.
O epidemiologista Lúcio Botelho, professor do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), concorda e faz outra ressalva: pessoas saudáveis podem se sentir mais motivadas a participar do que aquelas que estão doentes.
“Como a participação é voluntária, você fica dependente de uma pessoa querer ou não colocar os dados, e as pessoas têm uma tendência maior de informar voluntariamente algo que é bom do que algo que é ruim”, diz Botelho.
O epidemiologista diz que isso pode levar o mapa a indicar menos casos do que existem na realidade em uma região e fazer uma pessoa interpretar equivocadamente o risco que existe ali. “Uma forma de corrigir isso seria agregar ao mapa dados de outras fontes”, diz Botelho.
Via BBC