Universidade em Minas Gerais guarda 3.715 amostras de solo da Antártida

UFV abriga um dos maiores bancos de solos antárticos do mundo, essencial para estudos climáticos. Saiba mais sobre essa pesquisa inovadora.
Atualizado há 21 horas
Universidade em Minas Gerais guarda 3.715 amostras de solo da Antártida
UFV: referência em pesquisa com um dos maiores bancos de solos antárticos do mundo. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • A UFV possui um dos maiores bancos de solos antárticos do mundo, com 3.715 amostras coletadas.
    • O banco de dados permite estudar as mudanças climáticas na Antártida sem expedições caras.
    • Essas amostras são cruciais para entender como a crise climática afeta o continente gelado.
    • O projeto também revelou vestígios históricos da presença humana na Antártida, como contaminação antiga.
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Viçosa, em Minas Gerais, pode parecer distante da Antártida, mas a Universidade Federal de Viçosa (UFV) abriga um dos mais importantes bancos de solos antárticos do mundo. Com um acervo de 3.715 amostras de mais de 650 perfis de solo, a UFV se tornou um centro de pesquisa crucial para entender as mudanças climáticas no continente gelado. Essas amostras permitem que cientistas estudem a região sem precisar de expedições caras e complexas.

Viçosa: Guardiã das Amostras do solo da Antártida

A UFV possui um dos maiores bancos de solos antárticos do mundo. São 3.715 amostras, coletadas em mais de 650 perfis de solo, que permitem aos cientistas analisar a composição do solo em diferentes profundidades. Este banco de dados é essencial para monitorar as transformações que a Antártida sofre devido à crise climática e como o continente responde a essas mudanças.

O banco de solos facilita a vida de muitos pesquisadores, que podem estudar as dinâmicas da Antártida sem precisar gastar fortunas em expedições. Recentemente, uma pesquisa utilizou o banco para mostrar que a crise climática pode “esverdear” algumas áreas da Antártida, transformando parte do continente em um sumidouro de carbono.

A História por Trás do Banco de Solos

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Carlos Schaefer, um dos idealizadores do projeto, coletou a primeira amostra do banco com um doutorando em 2002, logo atrás da estação antártica brasileira Comandante Ferraz. Para Schaefer, que já tinha experiência com solos gelados, o banco surgiu da necessidade de mais dados e da falta de pesquisas sobre o tema.

“Era dezembro de 2002 e eu não queria perder tempo. Tinha, mais ou menos, uns 40 centímetros de neve”, conta Schaefer, professor da UFV. “Nós dois revezamos, cavamos, chegamos ao permafrost, coletamos e depois botamos os sensores lá para monitorar a temperatura do solo. Hoje, ele está lá todo automatizado, cheio de sensores espetados.”

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A Importância da Coleta de Dados no Permafrost

O permafrost, ou solo permanentemente congelado, é um elemento crucial para entender as dinâmicas climáticas da Antártida. Em 2001, Schaefer aproveitou uma oportunidade do Programa Antártico Brasileiro (ProAntar) para começar a modelar o clima do permafrost, um campo que, segundo ele, carecia de dados e pesquisas detalhadas.

Para montar o banco de solos, os cientistas precisam cavar através do gelo e perfurar o solo, um trabalho que exige bastante esforço. No entanto, como a ciência sempre exige uma pitada de dedicação, o resultado compensa o esforço.

O Processo de Coleta das Amostras do Solo da Antártida

Nem todo buraco cavado vira um ponto de monitoramento climático, mas a instalação de sensores só acontece em áreas representativas da região. A coleta de solo envolve a movimentação de mais de 150 kg de terra, com a retirada de cerca de 1,5 kg de amostras. Depois, a terra volta para o lugar de origem, minimizando o impacto ambiental.

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“É o tesão em fazer aquilo. Sem tesão ninguém faz nada na ciência, né?”, brinca Schaefer. “Tem de gostar. Está no meio da tempestade de neve, está frio e está lá cavando.”

Como os Cientistas Coletam o Solo na Antártida

  1. Remoção da Neve: Se houver neve, a primeira tarefa é cavar até alcançar o permafrost, que pode estar a metros de profundidade.
  2. Quebrando o Gelo: Com um martelo geológico, os cientistas quebram o solo congelado para conseguir amostras.
  3. Análise das Camadas: Após abrir o buraco, as camadas visíveis são descritas detalhadamente, um processo que pode envolver a movimentação de 150 kg de material.
  4. Coleta da Amostra: Cerca de 1,5 kg de solo é coletado para análise.
  5. Análise em Laboratório: O material é levado para a UFV, onde é analisado, etiquetado e armazenado.

Descobertas Inesperadas nas Amostras do solo da Antártida

Além das amostras de solo, os pesquisadores encontram vestígios do passado durante as escavações. Em 2010, na Ilha Livingston, Schaefer se deparou com ossos e um material desconhecido. Os ossos eram de foca, indicando um antigo acampamento de caçadores de focas.

“Comecei a achar umas placas de couro com osso misturado. Imediatamente abaixo disso, um material que eu nunca tinha visto antes, parecia uma gelatina preta dura, um óleo cristalizado”, explica Schaefer. O material preto era óleo queimado, transformado em resina, e o couro era a cobertura das cabanas dos caçadores.

O achado resultou em uma publicação e na identificação do local como um dos primeiros arqueoantrossolos da Antártida, solos alterados pela atividade humana no passado. Essas descobertas mostram que a história humana na Antártida é mais antiga e impactante do que se imaginava.

Vestígios de Exploradores e Contaminação

No início do século 20, o geólogo sueco Otto Nordenskjöld liderou uma expedição que ficou presa na Antártida após o naufrágio de seu navio. Schaefer encontrou vestígios do acampamento da expedição, incluindo ossos de pinguins que os exploradores matavam para comer.

Perto dali, uma base inglesa construída na década de 1940 pegou fogo, liberando fios de cobre, baterias de chumbo e resíduos industriais no solo. A análise revelou que o local era um tecnossolo, fortemente contaminado por metais pesados. “Esse trabalho é interessante porque gerou a ideia de que o homem contaminou a Antártida muito antes do que se pensava”, afirma Schaefer.

O Legado Nocivo da Presença Humana

A pesquisa de Schaefer revelou que a contaminação humana na Antártida é mais antiga e abrangente do que se pensava. A descoberta de arqueoantrossolos e tecnossolos demonstra que o impacto humano no continente gelado começou muito antes da era industrial, com caçadores de focas e exploradores deixando sua marca no ambiente.

Essas descobertas destacam a importância de estudar e preservar os solos antárticos para entender a história da interação humana com o continente e os efeitos a longo prazo da contaminação. A preservação desse ambiente se torna crucial, principalmente ao se considerar o guia essencial para segurança e preservação.

O trabalho realizado na UFV não só contribui para o conhecimento científico sobre a Antártida, mas também oferece insights valiosos sobre a história da presença humana no continente e os desafios ambientais que precisam ser enfrentados.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de S.Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.