Mistérios do Deserto do Novo México são Revelados por DNA Antigo e Indígenas

Pesquisa inovadora revela conexões entre indígenas e civilizações antigas no Novo México.
Atualizado em 02/05/2025 às 08:19
Mistérios do Deserto do Novo México são Revelados por DNA Antigo e Indígenas
Estudo inédito liga indígenas a civilizações antigas no Novo México. (Imagem/Reprodução: Redir)
Resumo da notícia
    • Uma pesquisa no Novo México revela vínculos entre indígenas e antigos construtores de comunidades.
    • Você poderá entender mais sobre a história e cultura indígena através dos dados genéticos.
    • As descobertas podem influenciar o reconhecimento e a valorização das tradições indígenas na sociedade atual.
    • A colaboração entre cientistas e indígenas pode mudar a forma como a história é compreendida e respeitada.
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Desvendar os mistérios de civilizações antigas sempre fascinou a humanidade. No deserto do Novo México, estruturas de pedra abandonadas há séculos guardavam segredos que agora vêm à tona. Uma pesquisa inovadora, que uniu esforços de indígenas americanos e cientistas de diversas partes do mundo, incluindo Brasil, Europa e EUA, está revelando conexões surpreendentes entre o passado e o presente, iluminando a história desses povos ancestrais através do estudo do DNA.

Descobertas no Deserto do Novo México Reveladas por Indígenas e DNA Antigo

Há aproximadamente 800 anos, as imponentes construções de múltiplos andares no deserto do Novo México foram misteriosamente abandonadas por seus habitantes. No entanto, uma análise de DNA recente aponta que esse povo não desapareceu completamente. Surpreendentemente, os dados genômicos revelam que os indígenas que ainda residem na região atualmente compartilham uma estreita ligação de parentesco com os antigos arquitetos.

Essa conexão entre o passado distante e o presente dos nativos americanos foi solidificada por meio de uma pesquisa que acaba de ser publicada na revista científica Nature, uma das mais prestigiadas do mundo. Este estudo contou com a colaboração dos brasileiros Thomaz Pinotti e Fabrício Santos, da UFMG, e representa um esforço conjunto, embora ainda incomum, entre cientistas e povos originários.

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Um aspecto notável é que o artigo na Nature também é assinado por representantes da nação tribal Picuris Pueblo, o grupo indígena que, muito provavelmente, descende dos grandes construtores que habitaram o deserto. Essa colaboração ressalta a importância de envolver as comunidades indígenas na pesquisa de suas próprias histórias, garantindo que suas perspectivas e conhecimentos tradicionais sejam valorizados e incorporados ao processo científico.

Segundo Pinotti, o estudo só foi possível devido a uma relação de confiança construída ao longo de três décadas entre Mike Adler, um arqueólogo da Universidade Metodista do Sul, no Texas, e os indígenas. Richard Mermejo, em especial, dedicou muito tempo a colaborar com os cientistas, atuando como uma ponte entre a cultura indígena e a pesquisa. Infelizmente, Mermejo faleceu em 2024, mas seu legado permanece vivo através deste trabalho.

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A Importância da Colaboração Indígena na Pesquisa Genética

A colaboração foi baseada no pressuposto de que o grupo indígena tinha o direito de tomar decisões sobre a continuidade ou o encerramento do trabalho, já que os pesquisadores estavam lidando com material genético de seus ancestrais. “Tudo passava pelo conselho tribal”, explica Pinotti, cujo doutorado foi realizado na UFMG e na Universidade de Copenhague, sob orientação de Fabrício Santos e Eske Willerslev.

Pinotti relata um momento curioso durante sua defesa de doutorado em Copenhague. Ao ser questionado sobre seu nervosismo, ele respondeu que, após apresentar o trabalho sobre a história do povo de Picuris para eles mesmos, sentia-se tranquilo. Ele ainda complementa: “No fim das contas, o que a história oral indígena diz e o que o DNA mostra são coisas que nem se validam, nem se contradizem, mas são histórias paralelas.”

As narrativas tradicionais da população de Picuris Pueblo e a arqueologia já apontavam para uma possível relação com os responsáveis pelas construções do Chaco Canyon, incluindo a famosa “grande casa” de Pueblo Bonito. Para alguns especialistas, o abandono de Pueblo Bonito e outras construções da região teria sido resultado da exploração exagerada dos recursos naturais por volta de 1150 d.C., levando à perda de fertilidade do solo e conflitos entre os grupos indígenas.

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Diante desse cenário de tensão, um colapso populacional pode ter ocorrido, resultando na substituição dos moradores originais por outros povos. A colaboração entre cientistas e comunidades indígenas, como a que vemos neste estudo, é fundamental para construir uma compreensão mais completa e precisa do passado, valorizando diferentes perspectivas e fontes de conhecimento.

Análise de DNA Revela Conexão Genética Direta

No novo estudo, os pesquisadores brasileiros e seus colegas analisaram o DNA de 16 antigos habitantes do território de Picuris Pueblo, que morreram entre 700 e 500 anos atrás. Além disso, examinaram o genoma de 13 membros atuais da comunidade e compararam esses dados com o DNA de quase 600 indígenas das Américas e da Sibéria, tanto antigos quanto atuais. Um ponto crucial foi que essa amostragem incluiu o material genético de antigos habitantes de Pueblo Bonito.

O resultado foi inequívoco: entre todos os povos indígenas avaliados, o grupo de Picuris apresentou a maior semelhança, em seu DNA, com os de Pueblo Bonito. Adicionalmente, uma descoberta intrigante surgiu na análise do mtDNA (DNA mitocondrial), que é transmitido apenas pelo lado materno. Em um dos sepultamentos de Pueblo Bonito, foi identificada uma variante rara de mtDNA presente em vários indivíduos, sugerindo a existência de uma espécie de antiga dinastia materna naquele povo.

Surpreendentemente, entre o povo de Picuris, um indivíduo moderno carregava essa mesma variante, indicando uma conexão genealógica direta. Essa descoberta fortalece a hipótese de que os habitantes de Picuris Pueblo são descendentes diretos dos antigos construtores de Pueblo Bonito, preservando em seu DNA os traços de seus ancestrais.

A diversidade genética do grupo também foi utilizada para investigar se houve algum tipo de redução populacional antes da chegada dos europeus. “Uma das coisas em que a gente estava mais interessado era ver se realmente houve um colapso pré-colombiano. E nossos dados não mostram absolutamente nenhum sinal”, resume Pinotti. Ou seja, os dados genéticos não confirmam a tese de um colapso populacional pré-colombiano.

O Abandono Ordenado de Pueblo Bonito

Estudos adicionais com a população indígena do Novo México e os sítios arqueológicos podem fornecer mais informações sobre o processo de dispersão dos antigos construtores de monumentos. O pesquisador brasileiro ressalta que a arqueologia já indicava que não tinha ocorrido um colapso repentino da civilização. Afinal, entender os processos de mudança e adaptação das sociedades antigas é fundamental para compreendermos melhor o presente e os desafios que enfrentamos.

“Pueblo Bonito foi intencionalmente abandonado, porque há aposentos que foram cuidadosamente selados e incendiados com oferendas dentro. A ideia do colapso não é verdade: foi uma coisa super ordenada”, explica Pinotti. Resta agora desvendar o motivo por trás desse abandono planejado. As respostas podem estar nas histórias orais dos povos indígenas, nos artefatos encontrados nos sítios arqueológicos e em novas análises de DNA que venham a ser realizadas.

O estudo do DNA antigo, como o realizado no Novo México, tem se mostrado uma ferramenta poderosa para reconstruir a história das populações humanas, revelando padrões de migração, relações de parentesco e eventos demográficos que moldaram o mundo em que vivemos. Além disso, a colaboração entre cientistas e comunidades indígenas tem se mostrado essencial para garantir que a pesquisa seja conduzida de forma ética e respeitosa, valorizando o conhecimento tradicional e as perspectivas dos povos originários.

Este conteúdo foi auxiliado por Inteligência Artificial, mas escrito e revisado por um humano.

Via Folha de São Paulo

André atua como jornalista de tecnologia desde 2009 quando fundou o Tekimobile. Também trabalhou na implantação do portal Tudocelular.com no Brasil e já escreveu para outros portais como AndroidPIT e Techtudo. É formado em eletrônica e automação, trabalhando com tecnologia há 26 anos.